Enquanto Itamar Franco deixou como marca de seu Governo o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso deixou o legado do Bolsa Escola e do combate à inflação, Luiz Inácio Lula da Silva é lembrado pelo Bolsa Família e Dilma Rousseff tem como marca positiva em seu governo o Minha Casa, Minha Vida, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já passou da metade de seu mandato sem ter realizado nenhum programa de impacto nacional, tanto na área social como na área econômica.

Na Opinião dos cientistas políticos ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a pandemia da Covid-19 não é motivo para o cenário da paralisia que o governo federal apresenta.

Pelo contrário, eles analisaram o cenário atual e afirmam que as limitações impostas pela crise sanitária poderiam ser uma oportunidade para Bolsonaro marcar positivamente sua gestão, mas o que se viu foi uma total falta de planejamento.

Auxílio emergencial

Até mesmo o benefício que Jair Bolsonaro hoje quer atrelar ao seu nome só foi possível depois da forte pressão do Congresso Nacional para que seu valor fosse aumentado, dos R$ 200 propostos pelo governo federal para R$ 500 e que finalmente chegou aos R$ 600, que foram pagos na primeira versão do auxílio emergencial.

Acidental

Para a professora Magna Inácio, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista ao Estadão, o cenário em que o país se encontra é “resultado do caráter acidental deste governo”.

A cientista política afirma que não foi por acidente que Bolsonaro recorreu a um "Posto Ipiranga" –como o próprio Bolsonaro apelidou o ministro da Economia Paulo Guedes– para passar uma imagem de boa reputação.

Tática parecida foi usada com Sergio Moro no comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A exploração da imagem e reputação de Guedes e Moro cumpria, naquele momento, a função de ocupar o vazio da agenda eleitoral de Bolsonaro, segundo Magna Inácio.

Minha Casa, Minha Vida

Jair Bolsonaro tentou se apropriar do programa habitacional que foi o símbolo da gestão da petista Dilma Rousseff e criou o Casa Verde Amarela, mas a proposta ainda não teve uma resposta efetiva e encontra resistência do próprio setor de construção. Com o aumento no custo dos materiais, as empresas têm suspendido o lançamento de novos projetos.

Como existe um teto para o preço dos imóveis, as construtoras não conseguem repassar o aumento e terminam por desistir do projeto.

Política trabalhista

Na área trabalhista, o presidente resolveu incentivar as contratações de jovens, e para isso foi criado o programa Carteira Verde Amarela. A proposta até foi enviada ao Congresso, porém caducou, porque o governo federal não se empenhou para a sua aprovação, tampouco fez os ajustes em um plano que previa até que o seguro-desemprego fosse taxado.

No campo da agenda liberal defendida pelo ministro Paulo Guedes, as privatizações de estatais como Correios e o grupo Eletrobrás sofrem resistência no Congresso e não conseguem avançar. Até mesmo em áreas que o governo Bolsonaro consegue avançar, como na infraestrutura, não dá para deixar a marca de Jair Bolsonaro.

Todas as concessões de aeroportos, rodovias, portos e ferrovias, são, em sua essência, projetos já iniciados por governos que vieram antes.

Para Fernando Limongi, o professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCHUSP), Bolsonaro só tem a oferecer “boiadas”, ou seja, seu governo somente desmonta as políticas de Estado.

Limongi afirma que o atual governo não foi eleito para elaborar novas ações e programas. Segundo ele, o governo Bolsonaro teria sido eleito sob a ótica do liberalismo selvagem, em que cada um iria cuidar de sua saúde e renda, somente pelo trabalho.