O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez nesta terça-feira (11), pela primeira vez, uma declaração sobre o suposto esquema armado pelo Governo federal para ganhar apoio do Congresso utilizando para isso um orçamento secreto de R$ 3 bilhões. Na ocasião, Bolsonaro insultou o veículo de comunicação que revelou a informação, o jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo o presidente, "inventaram que eu tenho um orçamento secreto agora". Bolsonaro também relembrou o caso da compra de leite condensado e afirmou que a imprensa não tem o que falar. Ele garantiu que o Orçamento foi aprovado e debatido por meses e questionou que apareceu agora a quantia de R$ 3 bilhões e culpou o jornal por divulgar a matéria que apresentou documentos comprovando as afirmações.

"Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí", afirmou o presidente a apoiadores no Palácio da Alvorada.

Sigilo total

Ainda que o Orçamento seja votado todos os anos pelo Congresso, a suposta operação montada pelo líder do Executivo para conseguir apoio no Legislativo foi feita de maneira secreta. Como foi revelado pelo Estadão, a distribuição das verbas foi negociada dentro de gabinetes no Palácio do Planalto, e foram utilizados ofícios que indicavam onde o dinheiro deveria ser aplicado, e em algumas situações, não havia nenhum registro por escrito. Parlamentares ditaram aos ministros para onde deveriam mandar os recursos, com até mesmo indicações do que comprar e quanto deveriam pagar.

Ao votarem o Orçamento, o Senado e a Câmara dos Deputados indicam o volume de recursos que serão destinados aos ministérios, utilizando para isso as emendas. No caso do suposto orçamento sigiloso de Bolsonaro, o dinheiro foi distribuído de outra maneira. De nome RP9, a modalidade criada no ano passado consiste em fazer com que os nomes dos congressistas não sejam revelados, até mesmo porque a modalidade vai de encontro à lei orçamentária e foi vetada pelo próprio presidente Bolsonaro, que na ocasião afirmou que este tipo de medida é contra o "interesse público".

Em sua conversa com os apoiadores, Bolsonaro não assumiu a culpa pelo suposto orçamento secreto e afirmou que se o dinheiro foi usado de maneira irregular, a culpa seria dos gestores locais. O caso será investigado pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e existem até parlamentares falando em criar a CPI do "Tratoraço".

Até mesmo o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), aliado de Jair Bolsonaro, fez um pedido para que fosse aberta uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o caso. Em abril, Bolsonaro havia negado a existência de algum tipo de orçamento paralelo. Na ocasião, o portal UOL havia feito uma reportagem sobre o tema. Na terça-feira o mandatário voltou a negar o suposto esquema.