Guilherme Boulos (PSOL) concedeu, nesta sexta-feira (28), entrevista ao programa "Voz do Povo", da Rádio Azul, de Americana, cidade do interior paulista. Boulos é nome que ganhou força no espectro da esquerda política brasileira. Foi candidato à presidência da República em 2018, e em 2020 chegou ao segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo, quando foi derrotado por Bruno Covas (PSDB).

Radicalismo?

No início da conversa, Boulos respondeu a uma pergunta corriqueira.: se ele é radical. O membro do PSOL tem ligação com o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), muita vezes estigmatizados como invasores.

"Sabe o que eu acho, radical não é alguém lutar para que as pessoas tenham um teto, que é a luta que eu faço há mais de vinte anos. Eu não acho que é radicalismo alguém lutar por igualdade social, lutar por distribuição de renda, por justiça, para que todo mundo tenha um trabalho digno. Para mim, aliás, é radicalismo o que faz o Bolsonaro na presidência da República, trabalhando contra a vacina, ou o que faz o PSDB aqui em São Paulo há trinta anos", citou.

O político continuou comentando sobre outras formas que, para ele, podem ser consideradas radicalismo. "No país que é um dos maiores produtores de comida do mundo, nós temos dezenove milhões de pessoas passando fome. A gente tem que ver gente virando lixo para comer.

Não sei como que está aí em Americana, mas digo para vocês que aqui em São Paulo não tem um semáforo que você anda que não tem alguém com um papelão pedindo comida, pedindo alimento. Um idoso, uma criança. Para mim radicalismo é ter um monte de gente sem casa num país com tanta terra. Lutar por justiça social não devia ser visto como uma coisa extremista", disse Boulos.

O político ainda reforçou o lamento pela situação atual do país. "Uma pena que no Brasil de hoje, com tanto preconceito, as pessoas tentem taxar, carimbar aqueles que têm posição, que têm lado. Isso eu tenho, não abro mão, eu tenho lado. Não faço política por conta própria, para ter ganho pessoal, como muitos aí fazem. Eu faço política porque acredito numa transformação da sociedade.

Eu acredito que as coisas podem ser melhores, porque acredito que a renda pode ser melhor distribuída na sociedade", pontou.

CPI da Covid

Ocorre no Senado Federal a comissão parlamentar de inquérito que apura eventuais crimes ou omissões do Governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Para Boulos, é evidente a responsabilidade de Bolsonaro na má condução do processo. "Essa CPI que está no Senado, se ela for levada a sério e não acabar em pizza, se não tiver um grande acordão ali, ela vai mostrar todos os crimes de responsabilidade que foram cometidos pelo presidente da República na condução da pandemia. É uma ficha corrida (...) Não precisava em tese nem de CPI, bastava dar um Google.

Tem vídeo, tem declaração dele nesse último ano, falando contra a vacina, falando que virava jacaré, falando que não ia comprar vacina. Tem vídeo dele estimulando não usar máscara, o descumprimento das normas sanitárias. Você tem ele todo dia falando de cloroquina e ivermectina, desde quando presidente da República é propagandista de remédio", acusou.