O depoente da quinta-feira (13) na CPI da Covid no Senado, Carlos Murillo, ex-gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, afirmou aos senadores que o Governo federal dispensou três ofertas de 70 milhões de doses do imunizante Pfizer/BioNTech, cujas primeiras doses já poderiam ter sido entregues em dezembro. A Comissão Parlamentar de Inquérito está investigando as ações e eventuais omissões do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia da Covid-19.

Ofertas

De acordo com o ex-CEO da Pfizer, a primeira oferta de 70 milhões de doses ocorreu no dia 14 de agosto.

O prazo para uma resposta era de 15 dias. O governo federal ignorou o prazo e, como resultado, a oferta expirou. Foram feitas mais duas ofertas, também com o total de 70 milhões de doses. As ofertas aconteceram nos dias 18 e 26 de agosto e novamente foram ignoradas pelo governo Bolsonaro, segundo Murillo.

As três ofertas tinham previsão de começarem a ser entregues em 2020. A terceira oferta, feita no dia 26 de agosto, tinha a previsão de 1,5 milhão de doses já no mês de dezembro de 2020, com a entrega de mais 3 milhões no primeiro trimestre do ano seguinte. O restante iria ser entregue durante todo o ano.

De acordo com Carlos Murillo, até o momento não houve atrasos no cronograma de entrega da Pfizer, o que significa que, se o governo brasileiro tivesse aceitado algumas das propostas, as primeiras vacinas da empresa teriam chegado ao Brasil em dezembro e a vacinação já poderia ter começado com um pedido de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso emergencial da vacina.

Esse foi o processo que ocorreu com a Coronavac, do Instituto Butantan de São Paulo, antes da aprovação em definitivo da Anvisa. O processo de vacinação teve início no dia 17 de janeiro, no mesmo dia em que a agência deu a autorização para o uso emergencial da Coronavac.

No último mês de fevereiro, a Anvisa deu a aprovação definitiva à vacina da Pfizer, com o Brasil sendo um dos primeiros países no mundo a fazê-lo.

Porém, o contrato com a farmacêutica somente foi fechado em março e a primeira leva de cerca de um milhão de doses do imunizante da Pfizer/BioNTech chegou ao país somente em abril.

O executivo ouvido pela CPI da Covid relatou aos senadores que as outras nações fecharam o contrato de compra antes mesmo que as agências regulatórias aprovassem as vacinas.

Nos Estados Unidos a vacinação teve início do dia 14 de dezembro e a FDA, a agência regulatória do país, deu uma aprovação emergencial para a vacina da empresa.

Murillo afirmou aos senadores que no mês de novembro o governo do Brasil declarou que o contrato só poderia ser realizado depois que a Anvisa aprovasse a vacina, sendo assim, novas ofertas só ocorreram em 2021, após a aprovação da agência regulatória. O contrato do governo com a farmacêutica só foi firmado em 8 de março, quando o Brasil já contabilizava 400 mil mortes pela Covid-19.