Em tempos de discussões políticas acirradas, e que até passam do ponto do bom senso, vimos nesta segunda-feira (17) pelo menos o respeito entre adversários. Guilherme Boulos (PSOL) foi entrevistado pelo jornalista José Luiz Datena na Rádio Bandeirantes (SP) para falar da morte de Bruno Covas (PSDB). O tucano morreu neste domingo (16), aos 41 anos, vítima do câncer contra o qual lutava há dois anos.

Em 2020, Boulos e Covas disputaram as Eleições da capital paulista. O tucano venceu o candidato da esquerda no segundo turno. Covas obteve 3,1 milhões de votos, e Boulos, 2,1 milhões.

Condolências

No início da entrevista, Boulos desejou conforto aos familiares e amigos mais chegados de Bruno. "Eu quero expressar novamente em público a minha solidariedade a todos os parentes do Bruno, em particular ao seu filho jovem [Tomás, de 15 anos], os amigos próximos do Bruno. Toda perda é dolorosa, mas por uma perda tão precoce. Bruno tinha 41 anos de idade, um futuro todo adiante. É triste uma perda como essa", lamentou.

O acirramento dos ânimos na política com a polarização tem causado conflitos até entre familiares, coisa que Boulos não concorda. "O que a gente viu acontecer nos últimos anos no Brasil é ver a política ser contaminada por uma coisa tóxica de ódio e de intolerância.

Se alguém é seu adversário político vira teu inimigo, você deseja o mal, você deseja a morte, você deseja o pior para a pessoa. Lamentável, e eu acho que nós estamos no fundo do poço no Brasil, hoje, em parte também por isso", disse.

Adversário que se respeitaram

Para Boulos, a disputa entre ele e Covas sempre se deu com respeito, apesar das discordâncias na visão política.

"Nós demonstramos na eleição passada, o Bruno com a postura também franca e democrática que teve, o que a gente demonstrou é que é possível ser adversário político, defender posições opostas, ter um projeto de cidade totalmente diferente, mas fazer o debate com tolerância. Fazer o debate com respeito. Não tratar adversário como se fosse inimigo mortal.

Espero que isso fique de exemplo porque essa é uma prática democrática. Eu acho que a perda do Bruno é também nesse sentido, uma perda para a democracia", afirmou.

O membro do PSOL não deixou de criticar o PSDB, mesmo elogiando Bruno Covas. "Porque se você olhar dentro do partido dele, inclusive, o que a gente vê são pessoas com espírito de tolerância, de respeito a quem tem posições opostas muito menor do que o dele [Bruno]. Então, eu lamento muito, fiquei bem triste ontem com a notícia. Era algo que na verdade já vinha se anunciando o agravamento do quadro de saúde dele", completou.