A Copa América ainda não teve início, porém o Governo de Jair Bolsonaro (sem partido) considera como uma vitória a decisão de última hora de o torneio ser realizado no Brasil. Isto fica demonstrado na atitude de Luiz Eduardo Ramos, ministro da Casa Civil, que comemorou a vinda do torneio para o país. "Venceu a coerência!", publicou Ramos em uma rede social depois que o presidente Bolsonaro anunciou que o campeonato rejeitado pela Argentina e pela Colômbia, há duas semanas de começar, irá acontecer no Brasil.
O jornal El País entrevistou o professor Flávio de Campos, pesquisador da história sociocultural do futebol na Universidade de São Paulo (USP).
Para Campos, o fato de Jair Bolsonaro ter atendido ao pedido em caráter emergencial da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) será usado como uma “cortina de fumaça” no momento em que o presidente sofre com queda em sua popularidade frente ao crescimento de seu principal rival na corrida eleitoral para presidente no próximo ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); os protestos contra seu governo; o atraso na campanha de vacinação contra a Covid-19 e também os desdobramentos da CPI da Covid no Senado, que investiga as ações e eventuais omissões do governo na gestão da pandemia do coronavírus.
Campanha eleitoral
O pesquisador afirmou que a intenção do ocupante do Palácio da Alvorada é realizar um acontecimento totalmente fora de hora em um momento que o governo federal se encontra na defensiva, que o presidente da República “está em campanha eleitoral” e irá usar todos os recursos que puder para manter sua popularidade.
Para Luiz Eduardo Ramos, é natural que ele faça uso político do esporte mais querido do país.
Mesmo com as declarações de cientistas, que dizem ser ariscado realizar o campeonato no momento em que o país está tendo uma alta nas hospitalizações, a Copa América iria ajudar a desviar as atenções da Covide-19 para o futebol. Bolsonaro tem como único compromisso com o esporte se servir dele para melhorar sua própria imagem, declarou Campos.
Para o professor da USP, Jair Bolsonaro também tem esperança de que as repercussões das manifestações que pedem seu afastamento da presidência da República sejam eclipsadas pelo evento, assim como as investigações da Polícia Federal (PF) que têm como alvo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O ministro está sendo investigado por contrabando ilegal de madeira.
Esta não é primeira vez que o líder do Executivo federal usa o futebol para melhorar sua popularidade, além de ser comum Bolsonaro aparecer vestido com camisas de vários times de futebol, o presidente em junho de 2019 convidou o então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro para ir a um jogo do Flamengo em Brasília, era uma maneira de ganhar apoio da população em meio à Vaza Jato, que tinha Moro como um dos principais alvos.
Um mês depois, o presidente tentou sem sucesso (ele foi vaiado) a mesma tática no Maracanã, quando foi ao gramado comemorar com a seleção brasileira a conquista da Copa América, algo parecido com que fez em 2018, quando comemorou com o Palmeiras a conquista do Campeonato Brasileiro daquele ano, ainda antes de ter ganhado a eleição para presidente da República.