Na tarde desta quinta-feira (19), o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, disse durante sessão que vai responsabilizar por crime comum os membros do chamado gabinete paralelo.
"Eu pretendo, como relator — posso até não aprovar nesta Comissão Parlamentar de Inquérito —, responsabilizar por crime comum todos os membros do gabinete paralelo pela maldade que fizeram contra o Brasil ao prescreverem remédios ineficazes, ao estabelecerem prioridades para gasto orçamentário, para execução de gasto público criminosamente", declarou.
O grupo seria formado por médicos, empresários e alguns políticos que aconselhavam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento da pandemia. Segundo a CPI, eles defendiam a utilização de remédios sem eficácia contra a Covid-19 e se posicionavam contra a vacinação em massa da população, ao contrário das orientações e decisões oficiais do Ministério da Saúde.
Renan não especificou quais seriam esses crimes. O texto-base do relatório da CPI da Covid, elaborado pelo gabinete do relator, já tem mais de mil páginas e pode vir a aumentar, a depender dos fatos que vierem a surgir ao longo da CPI.
Segundo informações do portal UOL, que teve acesso ao documento, capítulos já elaborados do relatório falam do gabinete paralelo e incluem transcrições e links de áudios, vídeos, declarações e documentos que comprovam a atuação extraoficial do órgão.
O relatório trará também informações que afirmam que quem se opunha ao gabinete paralelo acabava deixando o Ministério da Saúde. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich são citados como exemplos.
Quem integrava o gabinete paralelo?
Nomes como o do empresário Carlos Wizard, a médica Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) aparecem como supostos integrantes do gabinete paralelo.
No entanto, todos eles já foram ouvidos na CPI e negaram fazer parte de tal organização.
Parte dos supostos integrantes teria defendido uso da cloroquina e outros remédios sem eficácia para tratar a Covid-19. Além disso, teriam questionado a necessidade da vacinação em massa.
Um vídeo de reunião no Palácio do Planalto de 8 de setembro de 2020 mostra o suposto gabinete paralelo orientando Bolsonaro a ter cautela com vacinas contra a covid-19.
Nas imagens, entre os presentes, é possível ver Yamaguchi e Terra.
Nesse vídeo é possível ver também o virologista Paolo Zanotto, que inclusive usa o microfone para dizer diretamente a Bolsonaro: "No contexto da vacina, a gente tem que tomar extremo cuidado".
Nesta mesma reunião o presidente aproveitou para afirmar o seu discurso antivacina. Ele disse o seguinte: "Mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. Você não pode injetar qualquer coisa nas pessoas, muito menos obrigar".
Zanotto, então, diz ter enviado uma carta a Arthur Weintraub –ex-integrante do governo e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub– sugerindo a criação de um "shadow board" (gabinete das sombras, em tradução livre).
O próprio Bolsonaro sugere então que Osmar Terra, que chegou a ser chamado de “padrinho” por um participante da reunião, entre em contato diretamente com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.