Em sua época de deputado federal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) empregou pelo período de 8 anos (de 1998 a 2006) Andrea Siqueira Valle, irmã de sua segunda esposa, Ana Cristina Siqueira Valle. Um ano e meio após Andrea deixar de trabalhar para Bolsonaro, sua ex-esposa ficou com todo o dinheiro que estava na conta em que Andrea constava como titular e que recebia seu salário –havia na conta o saldo de R$ 54 mil.

É o que mostra a reportagem do portal UOL, publicada nesta segunda-feira (15), que revelou transações da quebra de sigilo de Andrea Siqueira Valle, determinada nas investigações do suposto crime de peculato que teria sido cometido por um dos filhos do presidente da República, o na época deputado estadual Flávio Bolsonaro, que é suspeito de desviar dinheiro dos salários dos funcionários de seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Foi permitida a quebra do sigilo de Andrea por ela também ter trabalhado no gabinete do primogênito de Jair Bolsonaro. A reportagem do UOL tentou entrar em contato com a presidência da República por meio de e-mail, telefonemas e também por mensagens pelo WhatsApp, mas não consegui obter respostas.

A reportagem envolvendo a ex-esposa de Bolsonaro é uma das 4 matérias feitas pelo UOL a partir da análise de dados de uma centena de quebras de sigilos bancários de investigados de estarem envolvidos no escândalo da Alerj, em que além de estar sendo investigado o filho 01 de Bolsonaro, já levou à cadeia o amigo do clã Bolsonaro Fabrício Queiroz, que era ex-assessor de Flávio Bolsonaro e atualmente está em prisão domiciliar.

O site teve acesso às quebras de sigilo no mês de setembro do ano passado, quando ainda não se tinha uma decisão judicial contestando a legalidade da determinação da Justiça do Rio de Janeiro, e desde então está sendo feita uma detalhada análise das 607.552 operações bancárias.

Anulação

Foi anulado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) o uso dos dados que resultaram das quebras de sigilos na acusação contra Flávio Bolsonaro, porém o Ministério Público Federal recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal).

O UOL fez a avaliação de que existe interesse público na divulgação das informações que estão na reportagem.

Cunhada

Jair Bolsonaro empregou a então cunhada Andrea Siqueira Valle de setembro de 1998 a novembro de 2006. Nesse período Bolsonaro estava em relacionamento estável com Ana Cristina Siqueira Valle –a união durou de 1998 até o final de 2007.

Já em janeiro de 2008, Ana Cristina retirou todo o dinheiro que havia na conta em que sua irmã era a titular em uma agência dentro da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Entre 2007 e 2008, Andrea declarou em seu Imposto de Renda que sua residência era onde moravam sua irmã e Jair Bolsnaro, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Mesmo tendo sua conta bancária em uma agência dentro da Câmara em Brasília, Andrea nunca morou em Brasília e nem na casa onde declarou à Receita Federal, ela, na verdade, morava em Resende, sul do Rio, onde exercia trabalhos como faxineira.

Negação

A reportagem do UOL entrou em contato com Ana Cristina sobre a movimentação da conta bancária de sua irmã. Ana negou ter conhecimento dessa operação e declarou que a reportagem deveria entrar em contato com seu advogado.

Andrea também foi questionada pela reportagem e somente afirmou: "Não tenho nada para conversar com vocês".

O advogado de Ana Cristina, Magnum Cardoso, declarou que a defesa não irá se manifestar sobre o tema, pois o procedimento está correndo sob sigilo. Cardoso ainda afirmou que repudia veementemente o vazamento das informações e isto tem se tornado algo recorrente nesse caso.