O grupo político da ministra do Turismo Daniela Carneiro (União Brasil) está sendo alvo de uma ação penal do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) que envolve o uso de homens armados com a suposta intenção de ameaçar empresários da Baixada Fluminense.

A denúncia foi apresentada pelo MP-RJ no mês de abril de 2019, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), chegou a ser afastado do cargo pelo período de dois meses, o marido da titular da pasta do Turismo foi acusado de ser o líder de uma organização criminosa ao lado do deputado estadual Márcio Canella (União Brasil).

Waguinho é o principal articulador das campanhas eleitorais de Daniela para a Câmara dos Deputados em 2018 e 2022, nas ocasiões, ela utilizou o nome "Daniela do Waguinho".

Acusação

O prefeito de Belford Roxo, o deputado Márcio Canella e mais outras 23 pessoas foram acusadas pelo MP-RJ serem os responsáveis pelo desvio de mais de R$ 14 milhões desde que Waguinho se tornou prefeito no ano de 2017, no ano de 2020 ele foi reeleito. A atual ministra do Turismo do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é alvo da denúncia, porém ela foi citada pelo MP-RJ na ação penal, pois sua irmã Djelany Mote de Souza Alves Machado recebeu um automóvel do empresário Jorge Luiz dos Santos Santana, um dos integrantes do esquema.

De acordo com o MP-RJ, Waguinho e Canella teriam se unido a um grupo de empresários que comandavam várias empresas por meio de laranjas, para fraudar licitações e desviar recursos públicos da prefeitura de Belford Roxo. Um dos episódios relatados na denúncia, ocorrido no começo da administração de Waguinho, dá conta que emissários do prefeito teriam feito pressão em Moisés de Souza Boechat, proprietário da BOB Ambiental, a empresa era responsável pelo gerenciamento de um aterro sanitário contratado pela prefeitura, ele teria sido pressionado para "arrendar" sua empresa por até R$ 1 milhão.

Em depoimento aos investigadores, Boechat afirmou que negou a proposta e por causa disso teria sido alvo de ameaças e viu seu contrato com a prefeitura ser rescindido de forma unilateral. O empresário afirmou que a rescisão foi motivada por "interesses escusos por parte do Prefeito de Belford Roxo”, ele ainda acusou Márcio Canella, o vice-prefeito da cidade da Baixada Fluminense, de tentar colocar outra empresa para substituir a BOB Ambiental.

Hostilidade

Funcionários da BOB Ambiental contataram que, no período que antecedeu a rescisão, a empresa sofreu hostilidade da Guarda Municipal de Belford Roxo e também de homens armados sem identificação. Em um dos depoimentos que o MP-RJ colheu, o engenheiro Wagner Aparecido Ribeiro disse que a região do aterro sanitário passou receber blitzes de "agentes uniformizados da guarda municipal de Belford Roxo”, junto com outras pessoas sem uniforme “em viaturas descaracterizadas", que impediram o acesso de caminhões à empresa.

Outra testemunha, José Batista Filho, disse ao MP-RJ que no ano de 2017 a empresa recebeu fiscalização todos os dias, muitas vezes até mesmo à noite e que essas fiscalizações foram feitas pela Guarda Municipal e por cidadãos civis descaracterizados, mas com vestimentas do tipo das utilizadas por militares, a testemunha afirmou que essas pessoas estavam em posse de armas de fogo.

Batista Filho também disse que esses homens faziam uso de automóveis particulares totalmente brancos e com placas brancas, esses carros estavam com película e circulavam de maneira que dificultava a visualização e identificação de quem estava no interior. O funcionário também disse que valas foram abertas na estrada de terra que dá acesso à BOB Ambiental. De acordo com o relato, essas valas atrapalharam que uma viatura do Corpo de Bombeiros chegasse à empresa quando foi chamada para conter um grande incêndio no aterro sanitário, que aconteceu em 2017. Os depoimentos não contêm elementos que indiquem que o incêndio foi criminoso.

O engenheiro Leandro Meira da Silva, o representante da EJC Construções, também prestou depoimento e afirmou que quando a empresa tentou participar de um pregão que a prefeitura realizou, ele teria sido ameaçado por aliados do empresário Jorge Luiz Santos de Santana, que queria preferência na licitação, o fato teria ocorrido em 2017.

Segundo a denúncia, Santana dizia ser o “dono do contrato”, pois ele dizia que ajudou Waguinho e trabalhava com o prefeito. O empresário chamou um agente da Polícia Militar (PM) à paisana para ameaçar Leandro, afirmou a testemunha.