Queridinho dos paulistanos, o Cine Belas Artes – cujo nome oficial é Petra Belas Artes – foi considerado a pérola dos cinemas de rua nas décadas de 70 e 80 pela sua localização privilegiada, área para conversas e programação escolhida a dedo. Também zelava pelo seu conforto, espaço e infraestrutura.
Do outro lado, o coronavírus chegou sem avisar em 2020, obrigando a novos hábitos e estabelecendo padrões mais rígidos de preservação da saúde. Uma delas foi o isolamento e distanciamento sociais.
Assim, se constroem dois cenários bem distintos: um da alegria e do entretenimento; outro, da prevenção e do medo.
Na mistura de ambos, prevalece o segundo.
Tarde demais para esquecer
Último setor a receber aval de funcionamento e retorno às atividades comerciais, a cultura e a diversão sentiram bastante o período de fechamento. Locais como teatros, salas de concerto e museus foram bem atingidos. Por extensão, os profissionais não escaparam; haja vista os músicos que tocam em bares e fazem da noite paulistana seu ganha-pão.
As salas de Cinema também paralisaram suas exibições. Porém, com a passagem da cidade de São Paulo para a fase verde, a expectativa seria de que o público retornasse a frequentar estes espaços dedicados à sétima arte.
Não foi o que aconteceu com o Petra Belas Artes: após um período de “seca” de sete meses causado pela pandemia, o cinema de rua voltou à ativa no mês passado.
André Sturm, dirigente do cinema pertinho da Avenida Paulista, surpreendeu durante a semana que passou, sobre o fechamento das portas em 7 de dezembro. Ela menciona que o pouco comparecimento das pessoas tem inviabilizado o negócio. Disse que, no primeiro fim de semana de novembro, apenas 8% do público veio assistir a filmes, em comparação com igual período de 2019
Ironia do destino
No mínimo, é curioso constatar que o Petra Belas Artes foi o primeiro a abrir suas portas e será também o primeiro a fechar; um indicativo de que a clientela ainda tem receio de frequentar áreas com aglomeração.
Em entrevista, André Sturm, que foi Secretário de Cultura de São Paulo, protestou: “a prefeitura decidiu deixar os cinemas fechados por mais tempo. A população tem a impressão de que eles são mais perigosos. Mas ontem, eu passei na frente de um bar, e tinha um monte de gente se abraçando”.
A cor do dinheiro
Ciente das medidas de segurança, André defende que as salas de cinema respeitam os limites vigentes de lotação, reduziram a questão de circulação nos ambientes e têm sistema de ar condicionado seguro.
Entretanto, não faz qualquer declaração sobre o consumo de alimentos sem máscaras ou do frisson de casais que se beijam no escurinho da sessão.
Na reabertura, o plano era que o cinema exibisse estreias, reprises, pré-estreias e clássicos consagrados da sétima arte.
A parte financeira é delicada para o espaço cultural: calcula-se um prejuízo de R$ 2 milhões por imposição das restrições causadas pela pandemia.
Ainda que o fechamento seja ruim para a clientela, pior será para o estabelecimento, pois mesmo de portas fechadas, o Petra Belas Artes terá despesas de R$ 150 mil a título de manutenção no mês que vem.
Nesse período de inatividade, André Sturm anunciou que suspenderá o contrato de 49 funcionários.
Eles passarão a receber do Governo Federal, conforme previsto na Lei que trata do coronavírus.
Quando permaneceu fechado, o Petra Belas Artes foi protagonista de uma iniciativa exitosa no Memorial da América Latina. Foi lá que se implantou o sistema de drive-in, chegando a vender todos os ingressos disponíveis. Um raio de sol em meio à escuridão das nuvens. Assim também se espera que a luz do projetor invada a sessão da sala, oferecendo emoção, diversão e um final feliz. De preferência permanente.