Quem mora em São Paulo conhece como ninguém o ritmo avassalador e devastador sobre sua própria arquitetura e construções de outros tempos passados.
Vertiginosa e implacável, a especulação imobiliária nem sempre é a melhor aliada para entender como era a terra da garoa quando nossos avós e ancestrais eram mais jovens.
Localizado bem no centro da capital paulista, a Vila Itororó é um marco resistente e marcante da história dos imigrantes e do próprio bairro da Bela Vista.
A persistência de sua existência é brindada com o abrigo de um complexo cultural em casas restauradas e outras que não estão assim tão conservadas.
Ontem, 10/09, o Itororó virou alvo das atenções dos aficionados pela vida noturna, pela cultura e por muitos paulistanos. Inaugurou-se mais uma opção de lazer e entretenimento. Para chamar a atenção, a artista Lígia Chaim criou uma instalação baseada no jogo de iluminação. Segundo ela, “a ideia é valorizar a luz, toda essa arquitetura histórica e tombada dessas ruínas, das próprias casas restauradas, e manter esse espaço como um ambiente de observação.”
Mais pompa
A data de inauguração da Vila Itororó coincide com a inclusão desse espaço cultural na Jornada do Patrimônio, a qual acontecerá hoje, 11/09, e amanhã, 12/09. Nesta Jornada, acontecem vários eventos dedicados à memória da cidade de São Paulo.
Um presente direcionado para os moradores do bairro do Bexiga (ou Bela Vista) será a apresentação teatral do encontro do sambista Adoniran Barbosa com a cantora Elis Regina, dirigida por Paula Klien e Georgette Fadel. Vale lembrar que o encontro entre os dois artistas realmente aconteceu em 1978.
O espetáculo contará com a trilha sonora baseada nos dois músicos e os componentes da peça de teatro contarão um pouco da história da área.
Outro evento que ocorrerá é a apresentação de “AMÕ – Encontro das Águas”, destacando as várias etnias indígenas que compunham a população paulistana de outrora. A peça ficará centrada na Música e na dança. O título também faz referência ao rio Itororó, o qual passava pela região do famoso bairro boêmio de São Paulo.
Piscina cinematográfica
Na Vila, havia uma piscina que, no projeto atual, se transformou em sala de Cinema. Com o nome de Cineclube Éden, a programação abre todas as quintas-feiras com horário previsto para as 19 h. Entretanto, a lista de exibição dos filmes não foi divulgada.
Outra iniciativa dentro da Vila Itororó abrange a Literatura: para quem é criança ou adolescente, o acervo do local foi especialmente pensado para esse público. Além disso, haverá publicações disponíveis que abordam o patrimônio cultural e arquitetônico, incluindo a história da própria Vila.
Linha do Tempo
A Vila Itororó surgiu em 1922, por meio do comerciante português Francisco de Castro; logo, os primeiros imigrantes foram morar nas residências, ainda durante o ciclo do café no estado de São Paulo.
Quando Castro morreu, as dificuldades sobrevieram: questões relativas a dívidas, a declaração de hipoteca e o abandono gradual do lugar fizeram com que a Vila rapidamente entrasse em decadência, cujo auge foi nos anos de 1980.
Em 2002, ganhou uma nova atenção quando a Prefeitura decidiu tombá-lo. Três anos depois foi a vez do Governo do Estado tomar a providência do tombamento.
No meio do caminho, os remanescentes moradores resistiram em sair até que, em 2011, foram transferidos para habitações próximas à Vila.
No ano de 2013, começaram os primeiros trabalhos de restauração efetuados por uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Instituto Pedra.
O novo conjunto cultural possui uma área total de 6 mil metros quadrados e é composto por cerca de 10 casas erguidas no começo do século XX. São nessas casas que se realizam atividades como oficinas. A programação prevista para este final de semana é totalmente gratuita.