Alguns desavisados podem até questionar em que Aristóteles (384-322 a.C) pode contribuir com a sociedade brasileira, uma vez que ele viveu num período muito distante dos dias atuais. Apesar de ter vivido na antiguidade, as suas ideias parecem que foram escritas para o Brasil de hoje, sobretudo num momento de crise como esta que o país atravessa. Ao ler a sua obra, principalmente o livro Ética a Nicômaco, pode-se encontrar verdadeiros tesouros, como os que seguem.

1. O cuidado com a república. Em primeiro lugar, para Aristóteles “o governante deve ser um líder virtuoso e moralmente comprometido com a república”.

De um modo geral, Aristóteles está afirmando que o homem público deve ser ético e comprometido com o povo. Pode-se dizer, ainda, que Aristóteles apresenta o procedimento do homem prudente como um valor, cuja opinião dos homens mais velhos, a experiência da vida e os costumes da cidade são condições objetivas para a vida feliz na cidade.

2. O homem é um animal político. Em segundo lugar, Aristóteles afirma que “toda ação humana é uma ação Política”. Logo, se o povo entendesse isso, não teríamos de um lado os chamados “políticos profissionais” - aqueles que se elegem como representantes do povo apenas para ganhar dinheiro - e, de outro, o cidadão comum, que por pensar que política é atividade apenas dos “políticos profissionais”, perde a capacidade de lutar por direitos fundamentais, como educação de qualidade, saúde, moradia, transporte, segurança.

Para Aristóteles, a finalidade da política é a busca do bem de todos os homens.

3. O conhecimento é a única riqueza que quando é dividida automaticamente se multiplica. Em terceiro lugar, Aristóteles afirma que “todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer”. Isto significa que, se o homem deseja ser bom, virtuoso, sábio, ele tem que “praticar o bem com os seus” e não por meio de “exercícios filosóficos”, de elevação da alma racional sobre a alma animal, como ensinava Platão.

Para Aristóteles, o conhecimento humano vai sendo formado e enriquecido por acúmulo das informações trazidas por todos os sentidos, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e o intelectual, há uma continuidade entre eles. Assim, as informações trazidas pelas sensações se organizam e permitem a percepção.

As percepções, por sua vez, se organizam e permitem a imaginação. Juntas, percepção e imaginação conduzem à memória, à linguagem e ao raciocínio.

4. A ética é uma virtude em ação que os homens podem praticá-la. Como filósofo prático, Aristóteles entendia a ética a partir do ethos (do costume), da maneira concreta de viver vigente na sociedade. É exatamente o ethos que funciona como elo entre as esferas jurídica e política, que se estabelecem como guias para a cidadania plena. Para ele, as ordens jurídica e política sustentam o ethos, isto é, o viver eticamente na república, buscando sempre a prática do bem. Isto significa que, se os homens públicos no Brasil praticassem o que ensina Aristóteles, o país não estaria nessa crise ética, que é a causa de todas as outras crises, principalmente à crise econômica. Enfim, é como diz Mário Sérgio Cortella: “A punição que os bons sofrem quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.”