A história da cultura ocidental revela-nos que a imaginação sempre esteve intimamente ligada à teoria literária, produzida tanto no âmbito da poesia como no âmbito das ciências humanas em geral. No entanto, para Gaston Bachelard (1884-1962), a imaginação é uma categoria filosófica. Expressando-se fundamentalmente na literatura, a imaginação concretiza-se numa práxis social. Dessa forma, a imaginação é um “complemento” do autor, do artista, do poeta; uma ponte entre a terra e o céu, o finito e o infindo.
Bachelard, ao analisar o procedimento das ciências contemporâneas, constata a existência de um novo espirito científico e percebe a necessidade de uma nova filosofia da ciência que deve ser construída contra uma concepção clássica da razão e da racionalidade.
Diante de tal constatação, o filósofo conclui que não há “objetividade”, mas sim um processo que se caracteriza como um pensamento em busca de um real que pode ser objetivado através da imaginação.
Dessa forma, Bachelard divide o tema da imaginação em dois movimentos caracterizados pelo emprego de métodos diferentes no estudo da imagem. No primeiro momento, o autor desenvolve uma interpretação dos elementos da natureza com a finalidade de ser o mais objetivo possível, isto é, mostrar que uma interpretação, por mais subjetiva ou arbitrária que pareça, pode ser objetiva.
No segundo momento da sua metafísica da imaginação, Bachelard abandona totalmente a tentativa de interpretação psicanalítica dos elementos da natureza e procura fazer uma “fenomenologia da imaginação.
Segundo o próprio Bachelard, “a fenomenologia da imaginação sugere que vivamos diretamente as imagens como acontecimentos súbitos da vida. Quando a imagem é nova, o mundo é novo”.
De acordo com Bachelard, o método fenomenológico permite que o sujeito aflore toda a força de sua vivência na visão da imagem. Ou seja, o objeto é constituído de traços que são aparentes e de traços que só a imaginação criadora pode perceber, porque só ela pode ir além do que está visível; só ela pode penetrar no objeto mesmo e ver o que está por trás dos fenômenos visíveis.
Como exemplo de imaginação criadora pode-se citar Cem anos de solidão de Gabriel Garcia Marques (1927-2014) que antes de escrever sua obra “viu” com antecedência criadora a saga da família dos Buendía.
Em suma, a filosofia da imaginação afirma que razão e imaginação, embora opostas, possuem características comuns, pois se impõem como atividades dinâmicas.
A razão, assim como a imaginação é, fundamentalmente, criadora, ativa, aberta e realizante. Sendo Gaston Bachelard o seu principal teórico, a filosofia da imaginação necessita de uma educação das artes, da mente, do corpo, da sensibilidade. Só assim a imaginação liberta e impulsiona o homem para além de si mesmo e o torna feliz.