Uma Praça de São Pedro vazia e deserta como uma das poucas testemunhas que assistia à celebração da missa de Páscoa pelo Papa Francisco.

Foi assim que muitos católicos e protestantes puderam visualizar uma das festas mais importantes de seus calendários religiosos.

Quem teve a oportunidade de participar recorreu aos meios eletrônicos como tablets, computadores, televisores e a Internet.

Isso não foi “privilégio” do Vaticano, pois no resto do mundo a regra era cancelar eventos, missas e procissões por causa da pandemia de coronavírus. Um flagrante contraste com a Páscoa do ano passado, onde se podia observar a Praça de São Pedro lotada de pessoas de todos os cantos do mundo.

Estimou-se naquela ocasião, a presença de 20 mil católicos em 2019.

Desta vez, o Sumo Pontífice que lidera 1,3 bilhão de seguidores e apreciador das multidões rezou em meio à solidão.

“Não é fácil permanecer em casa”, disse o Papa Francisco, ao mesmo tempo que quis homenagear os “santos da porta ao lado”, referindo-se aos médicos, voluntários, eclesiásticos e todos aqueles envolvidos nesta árdua tarefa de acabar com a pandemia.

O clero mundial anda obedecendo as regras de distanciamento social. Durante o Domingo de Ramos, um padre do Panamá abençoou os fiéis de helicóptero. Na Espanha, as procissões de confrarias foram canceladas, quebrando um costume celebrado desde o século XVI.

Sem dúvida, a maneira de lembrar ou festejar a Páscoa por parte de católicos, judeus, protestantes e ortodoxos foi alterada repentinamente e drasticamente.

Mesmo não partilhando da Páscoa, os muçulmanos proibiram a caminhada até a cidade sagrada de Meca, durante o Ramadã, ritual muito importante para esta comunidade.

No Brasil

Padres entrevistados lamentam a ausência e o contato com seus seguidores. Por um lado, sentem um vazio existencial e, por outro, descrevem a oportunidade de praticar a caridade.

Um misto de tristeza e, sobretudo, de fé.

Frei Luíz Carlos Susin, teólogo da PUC do Rio Grande do Sul, destaca que “a Páscoa é o centro do calendário litúrgico, é o que dá sentido ao cristianismo. A culminância está na Páscoa, que é morte e ressurreição de Jesus. É mais do que Natal, seu nascimento”.

Um sentido mais profundo

Para alguns padres católicos, o período da quaresma com o afastamento desencadeado pelo coronavírus são duas peças que se encaixam. É durante a quaresma que a oração, o jejum e a esmola são elementos que ganham novo sentido. Ou nas palavras do padre de Curitiba, Joaquim Parron, oração, penitência e caridade. Segundo ele, a tendência é potencializar a solidariedade e a realização da felicidade na vida das pessoas que se encontram em quarentena.

Até padres mais velhos, resistentes à disseminação da tecnologia, se viram obrigados a rezar suas missas por meio da Internet e sozinhos.

Inspirado por uma ação numa igreja da Itália, o jovem padre Reginaldo Manzotti colocou fotos dos frequentadores de seu culto nos bancos de sua igreja.

Sua intenção é de não abandonar seu rebanho, além de mantê-los como participantes e próximos dele e da fé.

Fé em Minas Gerais

Conhecidas por sua devoção nos tempos coloniais e por ser um atrativo turístico, as cidades históricas mineiras também se rendem ao isolamento e às tecnologias digitais.

Em Congonhas do Campo, a opção foi mostrar pela Internet uma série que conta a ressurreição de Jesus. Na diocese de Mariana duas importantes festas católicas tiveram suas datas remarcadas para o mês de setembro, deixando de receber cerca de 15 mil turistas.

Talvez a melhor manifestação sobre a atual conjuntura venha do Padre de Ouro Preto, Marcelo Santiago. Na procissão de Domingo de Ramos muitos mineiros se reúnem para relembrar a data.

Entretanto, no último domingo não havia ninguém nas imediações da Igreja do Carmo.

Indagado como se depara com tanto vazio, Padre Marcelo resumiu o seguinte: “muitas pessoas têm nos telefonado dizendo que estão com saudade da presença nas celebrações da missa. Eu podia dizer o mesmo, que celebrando sem o povo, estou com saudades. Calor humano se expressa melhor com a presença”.