As mulheres negras e pardas são as pessoas mais afetadas no mercado de trabalho pela crise econômica e financeira, reforçada por mais de 150 dias de quarentena, devido à pandemia do novo coronavírus. A questão reflete um grande problema racial, social e econômico, pois o maior grupo da população brasileira, 25,3%, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), está mais vulnerável, e não só no mercado de trabalho.

De acordo com a PNAD Contínua Trimestral, divulgada em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres têm a maior taxa de desemprego nesta pandemia, 14,9%, e a população negra,17,8%, e parda, 15,4%, são a maior parcela de desempregadas.

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em seu boletim bimestral, de julho/agosto de 2020, afirma que apenas 4% da população de Travestis e mulheres trans têm empregos formais, 6% têm empregos informais e subempregos, e um total de 90% da população de travestis e mulheres transexuais recorrem à prostituição como fonte de renda, por falta de opção e oportunidades, porém, o cenário é agravado quando se trata de travestis e mulheres trans negras e pardas.

A cor torna-se fator determinante para as oportunidades em uma sociedade como a nossa. O sonho nacional de emendar feriados tornou-se um pesadelo quando nos vimos obrigados a ficar em casa, porém, as mulheres negras e pardas estão mais expostas, e até em uma pandemia são as mais prejudicadas.

O desemprego é um grande problema que nos assola, no entanto, a maior taxa de desempregadas nos últimos anos vem sendo de mulheres negras e pardas.

O feminismo para mulheres negras

De acordo com o Atlas da Violência, divulgado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2019, as mulheres negras representam 66% de todas as mulheres assassinadas no Brasil.

E a violência de gênero e cor se repete com as mulheres travestis e as mulheres transexuais negras e pardas, que são a maioria das assassinadas no primeiro semestre de 2020, segundo a Antra.

A desigualdade e o preconceito de gênero não são os únicos problemas que as mulheres negras e pardas precisam enfrentar, também necessitam encarar a desigualdade racial, social e econômica, a discriminação racial, o racismo estrutural e institucional.

Como diz Angela Davis, filósofa e ativista negra norte-americana: "Quando a Mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo".

Mulheres negras e o mercado de trabalho

O mercado de trabalho não reflete o que é a sociedade brasileira, pois as mulheres negras e pardas totalizam apenas 0,4% nos cargos de lideranças, segundo a PNAD. Em 2019, 20% das mulheres negras e pardas trabalhavam com serviços domésticos, contra 10% entre as mulheres brancas, e neste ano, por causa da quarentena, o país teve a maior perda do setor doméstico, depois de nove anos.

A população negra e parda representa menos de 30% nos cargos de liderança, não sendo por acaso que a inclusão da população negra e parda ao mercado de trabalho foi o tema considerado mais urgente na pesquisa elaborada pelo Google Brasil em 2019, pois a população negra e parda representou 65% dos desempregados em 2018, segundo o IBGE.

Mulheres negras e as diferenças salariais

As mulheres negras e pardas recebem a pior remuneração do mercado de trabalho, ganhando em média 55% do salário de homens brancos, que são os mais bens remunerados. Os dados foram indicados pelo Ministério Público do Trabalho, com o suporte da Organização Internacional do Trabalho, em 2019.

Transformando em reais essa diferença fica mais alarmante, pois a renda média de uma trabalhadora negra e parda, em 2019, foi de R$ 1.476, ou seja, elas receberam menos da metade do salário de um homem branco, R$ 3.364, que teve a média salarial mais alta.

Mulheres negras e a escolaridade

A pesquisa Estatísticas de Gênero, elaborada pelo IBGE em 2018, indica que as mulheres entre 25 e 44 anos se formam 37,9% a mais na graduação que os homens. As mulheres negras e pardas representam 10,4% e as mulheres brancas, 23,5%, pouco mais da metade.

Em contrapartida, as mulheres negras e pardas se formam mais que os homens negros e pardos, 7%, porém recebem menos que todos e são a maioria dos desempregados.

Contudo, podemos notar que o espaço da mulher negra na sociedade é pré-estabelecido, antes mesmo de seu nascimento, existe um lugar para ela ocupar, embora não exista nenhuma superioridade biológica, intelectual ou qualquer outra que usam e já usaram para inferiorizá-la. O caminho é longo para garantir igualdade e equidade de gênero, racial e econômico, porém elas estão mais perto do que estavam ontem, a luta das mulheres negras e pardas nasce junto com elas.