Além da natural comoção que foi provocada na PM da Bahia pelo triste episódio em que o policial militar Wesley Soares Góes foi baleado por uma equipe do Bope depois dele ter ficado horas gritando palavras de ordem e dando tiros para o alto e contra os próprios policiais em Salvador, o fato infelizmente também causou uma forte reação política.
Logo após o policial militar, que de acordo com a PM estava tendo um surto psicótico, ser baleado, o deputado estadual Soldado Prisco (PSC), conhecido por ter liderado motins da polícia no passado, publicou um vídeo nas redes sociais em que conclamava os policiais da PM a paralisarem as atividades em solidariedade a Wesley.
Em frente ao hospital em que Wesley foi levado ainda vivo, policiais estavam gritando “a PM parou”.
Bolsonarismo
Parlamentares apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram para as redes sociais incitar os policiais a não cumprirem ordens do governador da Bahia, Rui Costa (PT). A estratégia foi usada para criticar as medidas restritivas tomadas pelo governador para conter o avanço da pandemia da Covid-19. O isolamento social é abertamente criticado pelo presidente e por seus apoiadores.
Agora o que se teme é que as ações coordenadas façam com que as cenas que foram vistas em fevereiro de 2020 no Ceará se repitam, quando um motim da PM, em 13 dias, teve como resultado 312 mortes, ocorridas entre latrocínios e homicídios.
Na última segunda-feira (29), perfis bolsonaristas estavam politizando a morte do soldado Wesley, de 38 anos. As postagens dos bolsonaristas tentaram dar ares de heroísmo ao ato do policial. Políticos com ligação com Jair Bolsonaro compartilharam um vídeo em que Wesley aparecia gritando palavras de ordem, como “Eu não vou permitir que violem a dignidade humana de um trabalhador” e “Venha ver a desmoralização da Polícia Militar da Bahia”.
Entretanto, o vídeo omitiu os disparos efetuados por Wesley para o alto ou quando o policial, que estava com o rosto pintado de verde e amarelo, atirou uma bicicleta e o material de trabalho de um ambulante no mar.
'Herói'
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que Wesley é um herói.
Em uma postagem no Twitter, a parlamentar bolsonarista, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, construiu uma narrativa para o que aconteceu na Bahia. Segundo a parlamentar, um soldado da Bahia foi alvejado por colegas de farda, sua morte se deu por ele ter se recusado a “prender trabalhadores” e ter se negado a obedecer às ordens "ilegais" do governador da Bahia. Após ter recebido várias críticas de parlamentares, Kicis apagou a postagem e afirmou que iria “aguardar as investigações”.
Os deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também comentaram sobre a morte de Wesley. O filho 03 de Jair Bolsonaro tuítou que “Esse sistema ditatorial via mudar”, destacando que protestos estão ocorrendo em todo o mundo e que a imprensa já não consegue mais esconder o que está acontecendo. Depois de expor sua teoria conspiratória, o parlamentar mandou mensagem de apoio à família do PM.