om o número atual de 606 mil mortos pela Covid-19, este é o destino para os que perderam entes para o vírus, e existe

Uma projeção aponta que deve haver um crescimento na visitação de túmulos em cemitérios na próxima terça, 2 de novembro, quando é celebrado o Dia de Finados. A motivação é o alto número de mortos desde que o vírus da Covid-19 chegou ao Brasil, no início de 2020. A informação é do Sincep (Sindicato dos Cemiterios e Crematorios Particulares do Brasil), que faz a estimativa com base nos registros de mais de 600 mil mortos para o coronavírus até o momento no país.

“Vivemos dois anos com um número muito aumentado de óbitos, então há um contingente de enlutados muito maior”, disse a presidente do Sincep, Gisela Adissi.

Para isso, a estrutura destes locais receberá investimentos como mais banheiros e tendas. Embora não tenha se extinguido totalmente a pandemia, a programação de eventos (missas, por exemplo) será espalhada por diferentes horários a fim de se evitar a formação de aglomerações. No ano passado, com o distanciamento social em voga, os mortos eram homenageados com missas virtuais, pela internet.

Cada lugar, uma maneira

Neste ano, a preferência será voltada para o modelo híbrido: ou seja, poderá acontecer de forma remota ou presencial. Em alguns cemitérios sob administração particular, será possível participar de celebrações ecumênicas, ouvir música e até adotar animais reunidos numa feira.

Mas, se bater aquela fome, esqueça! Pois a alimentação, como “food trucks” está proibida.

Em outro cemitério de São Paulo, as celebrações serão presenciais com distribuição de mudas de árvores. O diretor desse local afirmou que o cemitério se prepara para receber grande fluxo de visitantes, mas ele mesmo tem dúvidas se isso vai acontecer, uma vez que parte da população mantém certo medo de sair de casa.

As flores estão voltando

Item comumente ligado à lembrança e ao luto, as flores devem se multiplicar em cima dos túmulos em 2021. No ano passado, o mercado de vendas sofreu com a expansão do coronavírus, atrapalhando a programação das floriculturas.

A expectativa é de que haja alta nas vendas de vasos e arranjos e, pelo menos, na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo, o preparo para atender a demanda está assegurado.

“Infelizmente muitas pessoas partiram prematuramente. Cremos que a procura será grande, justamente por clientes que não tinham o hábito de ir ao cemitério. O previsto de aumento nas vendas é de 15% para nós.”, disse o comerciante Alexandre Góes.

Com o reconhecimento e a lida pessoal do recolhimento, Alexandre aposta que “as flores sempre transmitem sentimento. Não seria diferente, nesta data em que os queridos que partiram são lembrados.”

Por outro lado, uma florista de Campina Grande (PB), que trabalha há 40 anos no ramo, se divide entre a esperança e o trauma deixado por tantas mortes provocadas pela pandemia.

Apesar de expressar otimismo com relação ao movimento de Finados, já que a visitação aos cemitérios foi liberada na cidade, ela foi às lágrimas por lamentar a ceifa de tantas vidas perdidas nos últimos meses.

Fé que transpõe tudo

Em Recife, capital de Pernambuco, o coronavírus não abalou a fé de devotos e agradecidos por graças alcançadas e enfeitam ou rezam diante do túmulo da “Menina Sem Nome”.

Todo dia 2 de novembro, muitos recifenses visitam seu jazigo por acreditar em milagres, cura e alívio de doenças e dificuldades, além de pedir proteção a famílias.

Mesmo em 2020, fiéis e admiradores estiveram presentes com máscara no cemitério de Santo Amaro, no centro da capital. De acordo com informações, foi o local mais visitado no ano passado.

Em cima da lápide, as pessoas depositam brinquedos, doces e flores, além de placas de agradecimento e de um espaço para velas, o qual permanece sempre aceso – sinal de que recebe visitas ininterruptamente.

A “Menina Sem Nome” foi encontrada morta em junho de 1970 na Praia do Pina, em Recife. De mãos amarradas e sem roupa, a garota parda tinha 8 anos e o laudo do Instituto Médico Legal da época confirmou que ela morreu por asfixia na própria praia. Descartou-se qualquer indício de violação sexual ou estupro.

O assassino foi encontrado, um mecânico de 22 anos, e conduzido à prisão da Ilha de Itamaracá, aguardando julgamento. No entanto, pouco antes de comparecer perante o juiz, o réu apareceu assassinado na prisão. Mas a fé se perpetuou, mesmo que ninguém tenha encontrado a identidade da “Menina Sem Nome”.