Em carta divulgada pelo jornal O Globo no último dia 27 de outubro, o ex-deputado e atual presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e disse que pai e filho se viciaram "nas facilidades do dinheiro público". "Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", escreveu.

Esse movimento dado pelo petebista não esconde o desejo de formar em torno de si uma suposta ala "purista" do conservadorismo brasileiro, tanto que é sabido por muitos o assédio constante para que o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), junte-se ao seu partido e forme com ele um bloco mais coeso da direita tupiniquim.

A sombra fascista do passado

Um dos marcos da guinada à direita do partido, no passado ligado ao trabalhismo de Vargas, deu-se recentemente com a recepção em suas fileiras de grupos declaradamente fascistas. Integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB), entre eles o presidente Moisés José Lima, filiaram-se ao PTB em São Paulo.

Artigo publicado no site da revista IstoÉ no último mês de agosto afirma que o PTB se converteu numa casa para integralistas que queiram disputar as próximas eleições e que ambos os grupos compartilham os mesmos lemas em defesa da vida, do patriotismo, da "família tradicional" e dos "valores cristãos".

Não é de se surpreender que Roberto Jefferson tenha aglutinado em seu partido essas figuras singulares da política nacional.

De tempos para cá, ele personificou o cão raivoso da ala mais radical do bolsonarismo: adotou um discurso armamentista, religioso e anticomunista. Solicitou também o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, uma metralhadora giratória, mais para fazer barulho do que por convicção. E parece que suas aparições deu algum resultado: trouxe para sua plateia esses neointegralistas que, inspirados nas ideias de Plínio Salgado, cultivam visões do Estado análogas ao fascismo italiano.

Um velho lobo

Roberto Jefferson é um velho lobo no balcão de negócios da política brasileira. Além de ter sido condenado e preso por corrupção no caso do mensalão, está atualmente preso por fazer ameaças aos ministros do Supremo. Para consagrar sua fantasia de "bastião da direita", tem atualmente se esforçado para ser mais radical (no âmbito da farsa) do que o próprio Jair Bolsonaro.

Como o último, aprendeu a largar a mão dos seus e agora disputa com ele os interesses de um bloco de força para as próximas eleições. Como o presidente da República, seus interesses estão acima de qualquer necessidade coletiva, por isso não hesita em adequar as ideias para a recompensa de vantagens futuras. Isso se mostra na sua falta de pudor em mudar, em pouquíssimo tempo, o discurso A para o discurso B.