Em entrevista nesta última segunda-feira (10) à Jovem Pan News, o presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu que tirou nove dias de férias entre o Natal e o início de 2022. No último dia 5, o ocupante do Palácio da Alvorada havia dito que a afirmação de que ele estava de folga durante a crise das fortes chuvas no extremo sul da Bahia era maldosa.

Jogando em casa

A declaração de Bolsonaro foi dada ao veículo de comunicação que é uma espécie de cercadinho do Palácio da Alvorada, a Jovem Pan. Talvez seja o veículo de comunicação que mais protege o atual presidente da República, então pode ser que seja por essa razão que Jair Bolsonaro fique à vontade em contradizer a si mesmo, já que ele sabe não será questionado por nenhum dos jornalistas da emissora sobre o fato de não existirem férias para o cargo de presidente da República.

Para ser justo com a emissora, a maioria dos grandes meios de comunicação também não está dando muita visibilidade para o fato de o presidente da República ter usufruído de um direito que não lhe cabe.

Durante o período de lazer do presidente, o sul da Bahia chegou a ter pelo menos 850 mil atingidos pelas fortes chuvas, que também deixaram quase 100 mil pessoas sem casa e um saldo de 26 vítimas. Enquanto isso, Bolsonaro tratava de alimentar suas redes sociais com registros em que aparecia pescando, andando de moto aquática e também fazendo visita a um parque de diversões em Santa Catarina.

Jair Bolsonaro esteve no estado do Sul do Brasil entre os dias 27 de dezembro e 3 de janeiro, quando interrompeu suas férias para ser internado depois que sentiu um desconforto abdominal, que mais tarde se descobriu que foi causado por um camarão que o presidente engoliu sem mastigar.

De acordo com o presidente, os nove dias de folga aconteceram após sua visita às regiões atingidas pela chuva. Ele afirmou que tinha quatro ministros na Bahia “trabalhando incessantemente”. A visita do mandatário aconteceu no dia 12 de dezembro.

Cortina de fumaça

Bolsonaro é extremamente habilidoso quando se trata de desviar o foco de suas atribuições como presidente da República e também para evitar falar de problemas de extrema urgência para a população.

O grande problema disso é que essa tática praticamente só surte efeito para a (cada vez menor) bolha bolsonarista, ou seja, nos 20% de apoiadores fiéis do líder do Executivo.

Em ano eleitoral, em que provavelmente irá tentar a reeleição, Jair Bolsonaro dá mostras do quão vazia é sua pauta. Ele então tenta se agarrar ao que deu certo em 2018, a pauta de costumes. Para isso o presidente escolheu criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin por suspender uma lei estadual que proibia a linguagem neutra nas escolas.