Discussões sobre o sistema prisional já foram vistas em filmes em diversas ocasiões e renderam ótimas produções, como o brasileiro "Carandiru" (2003), o britânico-americano "Laranja Mecânica" (1971), assim como a produção do Senegal "Noite de Reis" (2020), entre outros. Neste tipo de produção são vistas metáforas e análises aprofundadas sobre vários modelos de encarceramento e métodos nada convencionais de correção de personalidade. Nesses filmes existe sempre um debate sobre quais são os limites das punições impostas pelas autoridades e também a denúncia dos direitos que os detentos possuem.

Ao explorarem a linha tênue entre ética e moralidade, produções do tipo não se dedicam a elaborar uma verdade sobre o tema, e sim convidem a audiência para que elabore sua própria resposta sobre o assunto. A nova produção da Netflix "Spiderhead" tenta ir por esse caminho, mas para isso o filme de Joseph Kosinski ("Top Gun: Maverick") fez uso de uma ambientação sci-fi. Todas as boas intenções do filme, no entanto, foram soterradas por uma narrativa equivocada.

A trama

Chris Hemsworth vive Steve Abnesti, cientista que conduz um experimento para a elaboração de drogas que controlam as emoções. Suas cobaias são pessoas que estão presas em uma instituição carcerária fora dos padrões. Os presos andam livremente pelas instalações da prisão e se voluntariaram para participar do experimento.

O personagem de Hemsworth logo em seu início já é capaz de despertar a antipatia do público, pois se trata de alguém arrogante, narcisista e manipulador. O ator conhecido por viver o super-herói Thor do MCU, entrega uma interpretação quase exagerada e um tanto quanto equivocada. Fica por conta do ator Miles Teller, que dá vida a Jeff, um dos detentos que participam do experimento, tentar dar um pouco de dignidade ao filme com seu ar atormentado.

Toda a discussão sobre o tema que o filme se propõe ficou perdida em um primeiro ato que não soube desenvolver a temática, até que surge na tela um impactante ponto de virada, mas nem depois do terrível acontecimento, as coisas foram para um bom caminho, muito pelo contrário. O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick ("Zumbilândia" e "Deadpool", respectivamente) leva o espectador a uma viagem por um caminho que flerta com o humor ácido, trash e gore, o que acabou destoando totalmente do tom mais sério proposto pelo filme.

Chris Hemsworth é um dos produtores do longa, e a impressão que fica é de que o ator não parece se importar em fazer produções de qualidade duvidosa, devido ao seu bom momento na carreira, em que pode se dar ao luxo de embarcar neste tipo de produção fadada ao esquecimento. Miles Teller, por sua vez, é um dos grandes destaques de sua geração e não merecia ter no currículo mais um filme de gosto duvidoso da Netflix.