Uma das coisas que mais chamaram a atenção no último domingo (16) no debate entre os candidatos à presidência da República –o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL)– foi a presença do ex-juiz da operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Sergio Moro.

Turma boa

Sergio Moro fez parte da comitiva de Bolsonaro nos estúdios da TV Bandeirantes, onde foi realizado o primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais. Quem também estava entre os convidados do presidente foi o ex-procurador Deltan Dallagnol, outra figura que ganhou notoriedade com a operação Lava Jato, responsável pela retirada de Lula da corrida eleitoral de 2018 e que fez com que os nomes de Moro e Dallangnol ganhassem projeção nacional e fossem vistos como paladinos da justiça.

Moro

Sergio Moro condenou, sem provas, o ex-presidente Lula e desta maneira o afastou de disputar as eleições de 2018. Naquele ano o petista ocupava a primeira colocação nas intenções de voto, bem à frente de Bolsonaro. Com Lula preso, Jair Bolsonaro foi eleito presidente e logo Moro se juntou ao governo, onde atuou como ministro da Justiça e Segurança Pública.

Dallagnol

O ex-procurador da Lava Jato se notabilizou na operação pela apresentação em PowerPoint em que responsabilizou o ex-presidente Lula por quase todos os tipos de crimes que teriam sido descobertos pela operação Lava Jato. Em março deste ano saiu o resultado do julgamento do ex-procurador, que foi condenado pelas denúncias de corrupção que fez contra Lula sem apresentar provas.

Política

Por diversas vezes, quando perguntado se deixaria de ser juiz para se tornar político, Moro foi categórico e respondeu que não, e teve quem acreditasse. O ex-juiz condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) por parcialidade no caso Lula teve momentos difíceis no governo Bolsonaro, pois o presidente, com sua paranoia, logo começou a ficar incomodado com o destaque de Moro em seu governo e começaram a surgir os atritos entre os dois.

Depois de um ano e quatro meses, Sergio Moro anunciou sua demissão do governo federal.

O desembarque do ex-juiz da Lava Jato do governo Bolsonaro não foi pacífico. Moro saiu atirando, e existe até mesmo um inquérito aberto no STF sobre a acusação feita por ele contra o presidente Bolsonaro. Moro acusa o mandatário de ter cometido crime de interferência na Polícia Federal (PF).

O político trapalhão

Até o momento, a curta trajetória de Moro na política é marcada por trapalhadas e traições. Depois de ter deixado sua máscara cair, Moro assumiu que tinha vontade se tornar presidente da República e, para isso, se filiou ao Podemos. Mas vendo que a legenda não tinha condições de bancar seus planos de chegar ao Palácio do Planalto, ele logo abandonou o partido para se filiar ao União Brasil, mas acabou se candidatando a senador pelo Paraná e saiu vencedor.

Intrigante

Talvez Moro só tenha conseguido se eleger senador por nos instantes finais da eleição ter declarado apoio a Jair Bolsonaro. O presidente, por sua vez, como precisa do máximo de votos possíveis, pois está em situação desvantajosa nas pesquisas de intenção de voto, viu a possibilidade de conseguir votos com os eleitores de Sergio Moro, que em sua grande maioria não simpatizam com o ex-presidente Lula.

Com esta união, mais do que forçada, Moro parece ter abandonado os dias de trapalhadas e ter entrado em outra seara, a das tramoias políticas. Segundo a coluna do jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, o entorno do ex-juiz estaria acreditando na vitória de Lula contra Bolsonaro, para Moro possa vir candidato em 2026 contra Lula. Bolsonaro, por sua vez, teria levado Moro ao debate como uma forma de tentar desestabilizar Lula. Se foi esta a intenção do ocupante do Palácio da Alvorada, parece que não deu muito certo, pois em determinado momento do debate, Lula questionou Bolsonaro sobre os sigilos de 100 anos do atual governo e o mandatário pareceu ficar aturdido por um bom tempo, porém ele até conseguiu se recuperar no final do debate, mais por culpa de Lula do que por mérito de Bolsonaro.