Próxima de completar 100 anos (mas só em 2029) e vedete do comércio varejista, a Americanas causou uma turbulência entre os seus acionistas e investidores. Consequentemente, o mercado sofreu um baque durante a semana que passou.

Na quarta-feira (11), a entidade declarou que algumas “inconsistências em lançamentos contábeis” beiravam os R$ 20 bilhões. Mas essa quantia pode dobrar, caso haja a cobrança antecipada de dívidas contraídas.

Sem pestanejar, os advogados da Americanas entraram com pedido de suspensão de bloqueio, penhora ou sequestro de bens da organização.

A Quarta Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu parecer favorável.

Mesmo com esse fôlego ganho, existe outro passo a ser dado na esfera judicial: o prazo de 30 dias para a entrada de um pedido de recuperação judicial.

Efeito dominó

Com a revelação em sua debilidade financeira, as cadeiras da presidência e vice-presidência financeira foram rapidamente desocupadas. Ambos os dirigentes renunciaram, após ficarem somente 9 dias em seus respectivos cargos.

Foi o estopim para deixar o mercado em polvorosa e outras empresas do ramo varejista em estado de alerta. Até os bancos credores da Americanas estão com as mãos geladas de tanto suor. Por sua vez, a gigante do varejo afirmou que não vê, no curto prazo, impactos robustos em seu caixa.

O fato é que na quinta-feira (12), as ações da Americanas chegaram a cair 77%; em cifras, houve perda de cerca de R$ 8,4 bilhões em valor de mercado.

Tão fugaz

Recém-chegado ao comando da varejista, Sergio Rial ficou menos de 10 dias no quadro de dirigentes. Sua missão era justamente “botar ordem na bagunça”, ou seja, organizar a contabilidade e o balanço financeiro da empresa.

Equivalente a uma forte descarga elétrica, a relação entre a dívida anunciada de até R$ 40 bilhões com o patrimônio líquido de R$ 14,7 bilhões é desproporcional. Quase três vezes. A pergunta permanece: a empresa é solvente?

Pontos obscuros persistem neste escândalo. Por exemplo: a contabilização inadequada no balanço financeiro, como essa manobra duvidosa foi descoberta tão rapidamente por Rial e há quanto tempo essa conduta vem ocorrendo dentro da organização.

Alguns especialistas foram consultados e declararam que, ao menos, a gestão anterior da Americanas devia saber de algo, e que isso não passaria incógnito. O próprio Sergio Rial avaliza essa hipótese.

E agora, José?

As primeiras consequências dessa situação para as Lojas Americanas recairiam na impossibilidade de tomar crédito. Antes disso, algumas agências de risco –como Fitch e S&P– já rebaixaram a nota de recomendação da empresa.

Outro problema está na lisura dos balanços contábeis: aqui no Brasil, as empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar sua contabilidade, melhor dizendo, a saúde financeira. Se isto não for seguido, identifica-se a suspeição sobre a entidade. Pode-se entender como maquiagem, omissão ou falsificação dos documentos de maneira deliberada.

Além de sofrer ações em outras instâncias, corre-se o risco de punição de ordem tributária.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já abriu dois processos investigativos e deve sobrar também para a empresa de auditoria PwC (PriceWaterhouseCoopers), a qual era encarregada de analisar e aprovar as contas da varejista.

De concreto, a Americanas desistiu de patrocinar o "Big Brother Brasil 23". Isso, logo depois do anúncio do rombo financeiro.

Segundo a opinião de analistas, a Americanas estourou sua capacidade de endividamento e, para sanar isso, eles opinam que a empresa será obrigada a parar investimentos e demitir funcionários. Resumindo: ela estaria na Unidade de Terapia Intensiva, em estado de coma.

Daí, a boia de salvação vinda da Justiça carioca.

Em relação às operações, a entidade não indica que parará de atender seus clientes, mas é incerto qual o tamanho do impacto nas vendas e na rede de consumidores.

Nesse tabuleiro, o jogo está desvantajoso para os que criam na companhia, seja pequeno ou grande investidor. Perderam-se a rentabilidade e o sono da noite.

Garantido mesmo, só a precaução, pois o ditado popular aconselha: “Um olho na galinha e outro na raposa”.