Fernanda Costa, 30 anos, não foi vítima do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, mas poderia estar na lista de desaparecidos ou mortos. Ela trabalhava na cozinha do refeitório da Vale, local mais atingido pela lama e que contabilizou, até agora, grande número de corpos desde que as buscas se iniciaram. A barragem de Brumadinho se rompeu na última sexta-feira (25) e já totaliza 150 mortos e o número de desaparecidos é ainda maior. A apuração foi feita pela repórter Thaís Leocádio, do G1 Minas.
Hoje Fernanda trabalha em uma lanchonete no centro de Brumadinho, mas sua história poderia ser outra.
Nos dias que antecederam o rompimento da barragem, ela pediu demissão da Vale, onde trabalhava como oficial de serviços gerais. O milagre na família não para por aí. O marido dela, Daniel Eloísio dos Santos, também trabalha na Vale e deixou o local de serviço cinco horas antes do rompimento. Ele trabalha no local há 11 anos.
Mulher pede demissão três dias antes da tragédia
Segundo conta Fernanda, no dia 22, portanto 3 dias antes da tragédia, ela foi devolver a indumentária e sua chefe chegou a insistir para que ela continuasse trabalhando no local. Como a barragem era longe e Fernanda tem uma filha, ela decidiu mudar de emprego para ficar mais próxima da pequena. Ela ainda relutou, por conta do clima de amizade que vivia no local de trabalho, mas a decisão já estava tomada.
Decisão esta que pode ter salvado sua vida.
A ex-funcionária também lembra que, pelo horário do rompimento, provavelmente ela estaria entre os escombros, já que o rompimento aconteceu no horário de maior movimento do refeitório, na hora do almoço. Tanto é que das nove colegas que também trabalhavam na empresa terceirizada, apenas uma teve o corpo resgatado, e foi identificada.
Trata-se da 'Dona Eva', amiga de Fernanda. As outras oito estão desaparecidas.
Fernanda relembra com pesar da amigas
No final de ano, Fernanda participou da festa de confraternização entre as amigas, que hoje estão mortas ou desaparecidas.
Ela também revela que tentava ligar para elas, mas ninguém atendia. A ex-funcionária acreditava ainda que poderia ser por conta delas não ouvirem o celular.
Depois de algo tempo que a ficha caiu. Ela acredita se tratar de um "livramento de Deus" o fato dela não estar no local do rompimento. Também revelou que sempre pede para Deus que lhe dê tempo de vida para poder cuidar de sua filha até quando ela precisar.
O marido de Fernanda também lamentou a perda de colegas no local e também disse que, dependendo da escala, poderia estar entre as vítimas, já que costumava almoçar no refeitório.