Operações contra a corrupção, envolvendo dinheiro público em resposta ao coronavírus, vem sendo realizadas desde o fim de abril no país. Ao todo são 18 operações, que ocorreram em média a cada 3 dias, chegando a cinco deflagradas na semana passada.
Sete estados já foram atingidos pelas ações: Rio Grande Do Sul, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pará, Amapá e Rondônia. As apurações foram autorizadas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Os governadores locais do Rio e do Pará negaram qualquer tipo de irregularidade.
Prefeituras também foram alvos de investigações policiais, entre elas as capitais de Rio Branco (AC), Recife (PE), Fortaleza (CE), e São Luis (MA).
Ao todo já foram cumpridos 230 mandados de busca e apreensão, e 32 pessoas suspeitas já foram detidas.
A CGU participou de pelo menos 12 das operações, em parceria com a Polícia Federal e o MPF. O montante das compras e contratos investigados chega a R$ 1,07 bilhão. O valor que foi efetivamente superfaturado ou desviado ainda segue em investigação. As informações foram levantadas pela BBC News Brasil, através do Ministério Público e Federal e da Controladoria-Geral da União.
As irregularidades são diversas. No caso das operações Assepsia, em Rio Branco, e Cobiça Fatal, em São Luís (MA), as apurações dizem respeito a sobrepreços de itens simples, como álcool em gel e máscaras descartáveis. Em outras regiões, como Rio De Janeiro e Distrito Federal, temos contratos milionários de construção de hospitais de campanha e compra de respiradores sendo investigados.
Alquimia
A primeira apuração, batizada como Alquimia, constatou um prejuízo de R$ 48,3 mil, relacionados a impressão de cartilhas com informações de saúde. Além disso, quatro operações tiveram como alvo o recebimento ilegal do Auxílio Emergencial, criado para pessoas de baixa renda e profissionais autônomos prejudicados pela pandemia, com o objetivo de reduzir os efeitos econômicos.
Jorge Hage, advogado e ex-ministro da CGU, afirma que o governo perdeu a mão na flexibilização dos controles financeiros durante a pandemia. Porém, isso já aconteceu antes, em casos como as enchentes na Região Serrana do RJ, ou nas cidades de Mariana e Brumadinho, onde grande quantidade de dinheiro federal foi enviada a estados e municípios.
Existe uma politização em torno desse assunto. Alguns fatores além do montante de dinheiro chamam muito a atenção. Alguns adversários do presidente acreditam que as investigações têm como propósito punir governadores que fazem oposição ao governo federal.
A deputada federal Cara Zambelli (PSL-SP) mencionou a possibilidade de investigações contra Wilson Witzel (PSC), governador do RJ, e a mesma ocorreu um dia depois, aumentando as suspeitas da oposição. O termo Covidão foi cunhado no fim de maio, em entrevista concedida por ela. Os acertos de Zambelli soaram mal, resultando em indiretas feitas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), onde ele dizia que a deputada tinha uma bola de cristal.