O problema não é recente e vem se manifestando ao longo dos meses. Desde 1984, o rio Paraná não sofre uma estiagem tão grande e com seu menor nível.

Utilizado como ligação entre Brasil e Paraguai, a Ponte da Amizade é referência na medição de profundidade de um rio considerado essencial para três países e vários estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste brasileiros.

É lá que se mediu o patamar de 92,27 m acima do nível do mar. Bem aquém dos 105 m, considerado como a altura ideal de um Paraná caudaloso.

A tendência é de que o rio baixe ainda mais, pois no mês de julho a fundura deve ficar nos 91 m.

Monitorando esse cenário, o Instituto Nacional de Águas da Argentina estima que a seca supere o pior nível registrado em toda a história, a de 1944.

Dança da chuva

No lado brasileiro, o Instituto Meteorológico do Paraná atesta para a antiguidade da questão: entre os meses de outubro a março de 2021, a incidência das chuvas foi menor, o que afeta o volume de água. A agravante desse fato vem acontecendo desde 2018. Quase três anos consecutivos.

A perspectiva é de que, nos próximos meses, o quadro se agrave com a escassez das chuvas na bacia do rio Paraná. Em vista disso, emitiu-se um alerta de emergência hídrica, impulsionando algumas providências que almejem à minimização do impacto.

Foz do Iguaçu, conhecida por seu turismo, vê seu principal cartão postal (as Cataratas) minguar cada vez mais.

Onde se via muita água, só se visualizam pedras e rochedos. O fantasma do apagão ronda os lares de parte do Brasil.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) soltou nota técnica com sua avaliação das condições de geração de energia.

Entre as recomendações do órgão “destacam-se a flexibilização das restrições hidráulicas dos aproveitamentos localizados nas bacias dos rios São Francisco e Paraná; aumento da geração térmica e da garantia do suprimento de combustível para essas usinas; importação de energia da Argentina e do Uruguai, além de campanha de uso consciente da água e da energia.”

Gigante hidrelétrica, Itaipu, por meio de seu diretor, afirmou que tem produzido energia, mesmo em tempos de seca, usando menos água.

Do outro lado da Tríplice Fronteira

Tão vital para o Brasil, a Argentina e o Paraguai penam principalmente no transporte mercante. Sem saída para o mar, o Paraguai depende exclusivamente do Paraná para escoar sua safra de grãos. Os exportadores calculam que R$ 2 bilhões estão parados dentro das embarcações à espera de melhores condições de tráfego hidroviário.

Na Argentina, o fluxo de transporte no rio diminuiu bastante, com o medo de encalhe no leito. O prejuízo para a agricultura argentina reflete-se na impossibilidade de exportar produtos-chave para a economia local, como o milho e a soja.

Outro fator preocupante reside na pesca: algumas cidades argentinas passam por necessidades, já que o ciclo natural dos peixes depende de questões hidrológicas e de clima. Sem pesca, sem peixe para vender e sem peixe no prato do consumidor final.

Paraná esturricado

Moradores de Curitiba e respectiva região metropolitana convivem com racionamento de água. O governo estadual tem priorizado o uso de água apenas para consumos humano e animal. O alerta acende com mais intensidade na região Sudoeste do Paraná, já que a captação hídrica é feita diretamente dos rios.

Em entrevista ao jornal Folha de Londrina, Júlio Gonchorosky, diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) afirmou que o estado terá “dificuldades com recursos hídricos até a entrada do verão, tanto para abastecimento quanto para atividades econômicas”.

Uma crise motivada por combinação de fatores que vão além da simples falta de chuva. A questão ambiental grita, quando se pensa nos desmatamentos da Amazônia e do Cerrado. Para completar, o fenômeno climático La Niña tem sido um bom responsável por este cenário sequioso no Paraná. Consequências observadas em alguns afluentes do Rio Paraná, com vazão abaixo do normal para a época. Os afluentes rios Grande, Paranapanema e Paranaíba acompanham a agonia da principal artéria fluvial.

Também à Folha de Londrina, a geógrafa Andréia de Oliveira acha que “a preservação do recurso hídrico precisa ser constante, por meio de matas ciliares e de APP´s (áreas de preservação permanente) e do combate a ligações irregulares de esgoto e descarte de lixo. A responsabilidade pelo recurso hídrico é de todos.”

Curitiba encara um rodízio de água desde março de 2020 e, houve certo alívio na questão dos efeitos da estiagem. O nível de seus reservatórios está em 51,82%, conforme medição efetuada em 14 de junho. Na mesma data do ano passado, situava-se em 38%. Mesmo assim, a capital e toda região metropolitana são afetadas. São 60 horas de fornecimento mescladas com 36 horas de suspensão.

Júlio Gonchorosky é enfático quando diz que “a situação está um pouco mais confortável, menos crítica do que há um ano, mas não está boa”.