É de senso comum entre nutricionistas e estudantes da profissão que há um desafio maior em exercer a função na era da tecnologia e informação. Note que informação e conhecimento são duas coisas distintas, do contrário, nossos problemas físicos, pessoais e psicológicos estariam totalmente resolvidos, graças à quantidade de informações disponíveis nos mais diversos livros, artigos e, agora, em perfis de redes sociais.
Os avanços tecnológicos são importantes para a profissão, que vem sendo cada vez mais entendida e reconhecida. Em contrapartida, deve haver uma conscientização por parte de nós, consumidores, leitores e pacientes, pois no afã de solucionar os problemas visíveis aos nossos olhos, colecionamos problemas internos, causados por dietas imediatistas, com propostas milagrosas, prescritas por pessoas sem quaisquer qualificações. Segundo a carioca Ingrid Figueiredo, o seu maior desafio como estudante de nutrição é exatamente esse, enfrentar tantas informações incorretas disponibilizadas na internet. “O ponto de partida para uma vida saudável é a conscientização”, conclui.
Se de um lado vemos pessoas com ideias extremistas, sedentas pela perda ou ganho de peso, do outro lado vemos pessoas alheias à Saúde. E o resultado da soma de todas essas pessoas (e suas particularidades) é o desequilíbrio emocional e o temido efeito sanfona, principal e mais evidente consequência de dietas rigorosas e restritivas.
A nutricionista Quézia de Araújo é especializada em Suplementação e Fitoterapia, e acredita que as pessoas deixam de ir às consultas pela comodidade encontrada na internet, e se enganam ao pensar que basta correr uma maratona ou viver na academia para alcançar o equilíbrio entre uma vida saudável e um corpo perfeito. O equilíbrio encontra-se justamente numa alimentação saudável, junto às atividades físicas e descanso.
Do contrário, o que nutricionistas como a Doutora Quézia encontram são pacientes diabéticos, hipertensos, com gordura no fígado e obesos. “Como uma síndrome, torna-se precursora de todas as doenças relatadas anteriormente”, diz sobre a obesidade. Há também pessoas que apresentam problemas sexuais. A perda de libido e a disfunção erétil também estão ligadas à má alimentação.
Os relatos da doutora mostram um quadro extenso de pacientes que chegaram até ela com problemas de saúde gravíssimos. “Já tive uma paciente que sua relação com a comida era tão difícil que a mesma introduziu telas pontiagudas na língua, que evitam que a pessoa coma normalmente, uma vez que, ao morder, a tela aperta e fura a língua, causando dor”, lembra.
O relato de Quézia fica como um alerta sobre os riscos emocionais e físicos que o desequilíbrio pode causar.
Exercício físico
Pedro França, de 18 anos, representou alguns clubes de futebol durante os anos como jogador.
Em todos eles teve apoio de profissionais da área da saúde. Hoje, estudante de nutrição, fora do esporte profissionalmente, tem o desafio de se manter atento aos limites de seu corpo e continuar buscando melhorias junto a estes profissionais. Ele acredita que na área do esporte, o preparador físico ajuda o aluno a superar seus limites e, em muitos casos, torna-se o “psicólogo” do atleta, tendo como objetivo fazer daquela pessoa uma campeã. “O corpo funciona como uma engrenagem, e cada profissional tem que mexer em sua peça para o desenvolvimento do corpo em geral”, diz.
Obesidade infantil
Com o passar dos anos, a cultura do Fast-Food e o bom marketing da indústria das guloseimas, crescem cada vez mais e se adequam à necessidade dos pais que vivem correndo contra o tempo, exaustos com suas extensas jornadas de trabalho, atingindo diretamente boa parte da população infanto-juvenil. Gerações são formadas sem conteúdo nutricional, imediatistas e vulneráveis a problemas futuros.
Quando perguntada sobre como combater a obesidade infantil, Quézia foi direta: “Educando pais e responsáveis”. No Brasil, em 2016, o índice de obesidade somado entre meninos e meninas era de 22,07% (segundo dados da rede de cientistas de saúde NCD Risk Factor Collaboration).
O mito da comida cara também está presente na mente e no dia a dia da população, levando-a a optar por alimentos aparentemente mais práticos e baratos.
Esse é, sem dúvida, um dos muitos desafios que o campo nutricional tenta, dia após dia, desmistificar. A explicação para que alguns alimentos entrem a saiam de moda, juntamente às informações sobre alimentos caros (e saudáveis) versus alimentos prejudiciais (e em conta), é que empresas lucram com a venda de seus alimentos ou perdem a lucratividade quando os mesmos deixam de ser consumidos em grande quantidade. Outro fator são as especulações, as opiniões contraditórias ditas e vendidas por pessoas leigas, sem qualquer embasamento científico, também visando ao lucro e à popularidade.
A nutricionista propõe um teste: “Tente comparar o gasto de R$ 50,00 na feira livre com o que é possível comprar com os mesmos R$ 50,00 nas gôndolas do mercado”. E conclui que “Alimentação é um investimento em longo prazo. Se hoje você economiza com comida saudável, muito provavelmente você gastará com remédios amanhã”.