Nas últimas semanas, um estudo publicado pela revista científica The Lancet movimentou o cenário internacional. Tratava-se de uma pesquisa realizada com 96 mil pacientes internados que haviam feito o uso da cloroquina como medicamento para o tratamento da Covid-19. Na época, a publicação afirmava que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina aumentava o risco de morte e de arritmia cardíaca.
O resultado da pesquisa publicada na The Lancet motivou até mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a interromper os testes que vinham sendo realizados com a cloroquina e a hidroxicloroquina para o tratamento do novo coronavírus.
Até então, o estudo publicado era o maior relacionado com a Covid-19, o que passou certa credibilidade sobre o assunto. A pesquisa foi realizada com base nos dados da Surgisphere Corporation, uma empresa americana que coletou e informou dados de diversos hospitais de vários países, para compor o estudo. Sapan Desai, fundador da empresa, foi co-autor do estudo.
The Lancet tira do ar estudo sobre hidroxicloroquina
Entretanto, tudo mudou após uma publicação no jornal britânico The Guardian, que trazia informações que levantam controvérsias quanto à credibilidade do artigo publicado pela The Lancet por conta das informações coletadas pela Surgisphere Corporation. O jornal afirmou que os dados apresentados pela empresa não eram compatíveis com a realidade de alguns hospitais em alguns países, como era o caso, por exemplo, da Austrália.
A partir de então, a publicação passou a cair em descrédito e por isso, 3 autores do artigo científico, Mandeep Mehra, Frank Ruschitza e Amit Patel , decidiram fazer uma “revisão independente” para “avaliar a origem dos elementos da base de dados, para confirmar que estavam completos e também para replicar as análises apresentadas no estudo”.
Porem, em nota, os pesquisadores alegaram que a Surgisphere Corporation não transferiu base de dados e contratos coletados --alegando violação de confidencialidade-- o que impediu que a revisão independente pudesse ser realizada.
Os pesquisadores informaram ainda que, não poderiam mais “garantir a veracidade das fontes de dados primários, e que por isso, solicitariam a retirada do artigo”.
Os autores lamentaram ainda o possível constrangimento causado a leitores e profissionais da revista por conta das controvérsias da pesquisa.
OMS retomada testes com a hidroxicloroquina
A Organização Mundial de Saúde (OMS), anunciou na última quarta-feira (03) que retomaria os testes apenas com a hidroxicloroquina. Segundo o órgão, após revisar dados não foi encontrado uma elevação no índice de mortalidade entre os pacientes que faziam o uso do medicamento.
A OMS suspendeu os testes com a cloroquina e a hidroxicloroquina depois do estudo da revista The Lancet divulgar os riscos relacionados com o uso da cloroquina, que levariam a arritmia cardíaca e elevação no número de mortes.
No entanto, quando a revista sinalizou preocupação quanto à veracidade dos dados utilizados no estudo publicado, a OMS optou por retomar os testes.
Ensaio Solidariedade revisa dados e retoma testes
O Ensaio Solidariedade, que é um projeto coordenado pela OMS, e que reúne diversos países no estudo e pesquisa do combate ao coronavírus. O projeto optou por retomar os estudos com a hidroxicloroquina. De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o comitê de segurança “revisou os dados” e decidiu que “não há motivos para modificar o protocolo de ensaio”.
A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, no entanto, explicou que a mudança nos testes não é definitiva e que alterações podem ocorrer no futuro, conforme o monitoramento de segurança de cada ensaio.