A cloroquina e a hidroxicloroquina, ambos remédios que viraram alvo de polêmica no combate ao coronavírus, estão de volta às notícias. A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que testes com a substância coordenados pela entidade estão suspensos.

A motivação teria sido o mais recente estudo feito sobre a eficácia do remédio, publicado na revista The Lancet, no qual o uso da substância no tratamento à doença não é considerado eficaz ou seguro do ponto de vista de evitar efeitos colaterais drásticos. A suspensão dos testes é temporária e apenas para os estudos feitos com estes dois remédios.

OMS estudava cloroquina

Os testes feitos com a cloroquina e a hidroxicloroquina eram parte de um programa de estudos de nome Solidarity (Solidariedade), que reunia cientistas de 100 países e tinha inscritos cerca de 3,7 mil pacientes para participar do estudo. No Brasil, a Fiocruz é a responsável por conduzir as pesquisas no país.

Tedros Adhanom, diretor-executivo da OMS, explicou que a decisão que rendeu a suspensão dos testes sobre os remédios foi feita em reunião no último final de semana que discutiu os estudos recentes feitos com a droga. O Solidarity também usa estudos com remédios como remdesvir, lopanavir e ritonavir, estudos estes que devem seguir sendo feitos pelo grupo da entidade.

Estudo recente destacou perigos da cloroquina

O estudo apresentado pela The Lancet na última semana foi feito pela Escola de Medicina de Harvard e foi o maior estudo feito até o momento (envolvendo 96 mil pacientes para os testes) para ver a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento ao coronavírus.

Segundo o estudo, o uso destes remédios sozinhos ou combinados com outros antibióticos não produz qualquer tipo de sucesso contundente para tratar pacientes da doença.

E pode aumentar risco de arritmia cardíaca em pacientes.

"Os autores reportaram que, entre pacientes com Covid-19 usando a droga, sozinha ou com um macrolídio [classe de antibióticos da qual a azitromicina faz parte], estimaram uma maior taxa de mortalidade", afirmou o executivo da OMS.

Brasil quer cloroquina também em casos leves

A decisão da Organização Mundial de Saúde em barrar os testes com a cloroquina chega num momento em que o Brasil decidiu alterar o protocolo de administração do remédio, também contemplando pacientes de casos de sintomas mais leves, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro tem apoiado o uso do remédio para o tratamento da doença, mesmo sem que estudos demonstrem sua eficácia no tratamento ao coronavírus. A pressão presidencial para que o protocolo fosse alterado acabou causando discussão e a demissão de dois ministros da Saúde brasileiros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

O protocolo de uso das drogas pelo governo brasileiro vai contra as recomendações feitas pela OMS e pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).

Ambas as entidades recomendam que o remédio seja administrado apenas em ensaios clínicos e não para uso amplo da população.

"Eu quero reiterar que essas drogas (cloroquina e hidroxicloroquina) são aceitas como geralmente seguras para uso em pacientes com doenças autoimunes ou malária", afirmou o dirigente da OMS.