A corrida pelas vacinas no Brasil ganhou um novo personagem nos últimos dias: o setor privado. Diante da escassez na disponibilidade de imunizantes no país e dos frequentes casos de pessoas furando a fila, mais uma vez o setor privado brasileiro se mobilizou na tentativa de procurar uma solução para a pandemia do novo coronavírus.

Nomes de empresas como Itaú, Ambev, JBS e Santander haviam sido citados como pertencentes ao grupo de empresas que tinham a intenção de adquirir 33 milhões de doses da vacina produzida por Oxford/AstraZeneca. As doses estariam disponíveis para aquisição e cada uma custaria US$ 23,79, muito acima do valor de US$ 5,25 pago pelo governo federal e mais ainda do valor que países como Bélgica gastaram por dose –US$ 2,16.

Vacinas e setor privado: governo Bolsonaro autorizou

A ideia de empresas privadas adquirirem vacinas é controversa. Por enquanto os imunizantes não são usados pelo setor privado e as fabricantes negociam direto com governos.

A proposta inicial era de que 50% do lote seria para uso do Ministério da Saúde no Plano Nacional de Imunização e os outros 50% ficariam com as empresas, que imunizariam seus funcionários. A ideia foi alvo de críticas até mesmo internamente, já que algumas companhias passaram a defender que o lote inteiro fosse destinado ao SUS, já que vacinar os funcionários seria "furar a fila" dos grupos prioritários estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Governo Bolsonaro foi consultado e deu aval para aquisição das vacinas

Antes de efetuar a compra, os empresários consultaram o governo federal sobre a viabilidade da aquisição, já que a ação seria inédita no mundo. O governo, por sua vez, encaminhou uma carta para a AstraZeneca em que deu aval para a compra desde que algumas exigências fossem atendidas, como a de que os imunizantes deveriam ter rastreamento e não poderiam ser vendidos.

A carta foi assinada por José Levi (Advocacia-Geral de União) e por Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União). O presidente Jair Bolsonaro também fez manifestação favorável à compra. Ele disse que a compra das vacinas pelas empresas privadas ajudaria a economia do país e que o SUS ainda poderia receber 16,5 milhões de doses (50% do lote) gratuitamente, o que seria vantajoso para o país.

Bolsonaro disse ainda que faria o possível para que o setor privado pudesse adquirir as vacinas.

AstraZeneca rejeita comercializar vacinas com o setor privado

No entanto, a proposta, que parecia viável após o aval do governo federal, foi interrompida após posicionamento da AstraZeneca, que não havia sido consultada até então. A desenvolvedora dos imunizantes cobiçados pelos empresários brasileiros divulgou, na manhã dessa terça-feira (26), uma nota pública em que rechaça a possibilidade de vacinas serem vendidas para o setor privado.

O posicionamento era aguardado, pois a proposta esbarra em questões éticas de indisponibilidade de vacinas para países do mundo. E foi esse o argumento que empresa usou para recusar a proposta.

A nota da farmacêutica afirma que a empresa tem um compromisso global com o acesso igualitário e amplo de seus imunizantes, e que no momento todas as vacinas produzidas estão destinadas de forma exclusiva para acordos com governos, e que, portanto, seria inviável disponibilizar qualquer dose para o setor privado.

Até o momento do fechamento desse artigo não havia posicionamento das empresas do Brasil sobre a recusa da AstraZeneca.