Logo pela manhã de 21 de agosto de 1989, o rock ´n roll do Brasil perdia talvez a maior figura representativa de sua história, Raul Santos Seixas. Ele foi encontrado inerte sobre sua cama no apartamento em que morava na cidade de São Paulo. Sofria de diabete, mas a causa de sua ida para o “outro lado” foi um infarto originado de uma pancreatite aguda.

Mesmo com sua partida para o Mundo espiritual, Raul, considerado o “pai do rock nacional” influenciou e influencia artistas de ontem e de hoje. Dependendo do show que se frequenta, é costume ouvir a clássica frase “toca Raul”, comprovando sua perenidade e popularidade, ainda que isto soe uma mosca na sopa para quem se vê obrigado a tocá-lo.

Um pouco de sua vida

Baiano de Salvador, nasceu em 1945 e logo cedo adquiriu o gosto pelo rock e por Elvis Presley. No fim dos anos 60, monta uma banda denominada ‘Raulzito e os Panteras’. Numa das apresentações do conjunto, é descoberto pelo cantor da Jovem Guarda, Jerry Adriani, o qual faz um convite para o grupo ir para o Rio de Janeiro. Lá grava o único disco da banda e, particularmente, Raul passa por momentos muito difíceis na “Cidade Maravilhosa”, descritos em um de seus ‘hits’, “Ouro de Tolo”.

Mas, em 1972 as portas se abrem para ele, já que participou do Festival Internacional da Canção, defendendo uma melodia que misturava o rock e o baião. Esta Música chegou à final do festival e melhor: revelou Raul Seixas para o público em geral.

Ainda na década de 70, conhece o seu mais frequente parceiro musical, Paulo Coelho; ambos compõem os maiores sucessos cantados pelo “Maluco Beleza”. Entre eles, “Gita”, “Tente outra vez”, “Medo da Chuva” e “Sociedade Alternativa”. Foi a época de maior projeção e também uma das mais complicadas em razão do auge da ditadura no Brasil.

Raul chegou a ser torturado e buscou um breve exílio nos Estados Unidos.

Nos anos 80, ele não repetiu o mesmo sucesso e sua saúde sofria dos efeitos causados pelas drogas e pelo álcool. Às vezes cumpria a agenda de shows em estado de embriaguez. Só em 1989 é que Raul retorna com seu vigor, graças ao apoio e à parceria de outro roqueiro baiano, Marcelo Nova, vocalista do “Camisa de Vênus”.

Os dois excursionaram pelo país, fazendo cerca de 50 apresentações para promover o disco da dupla, “A Panela do Diabo” - o derradeiro para Raul. Depois de sua morte, o disco vendeu em torno de 150 mil cópias.

Palavra do parceiro

Hoje escritor consagrado, Paulo Coelho revelou que ficou feliz sobre a partida de Raul Seixas e relembra que os fãs mais ardorosos o culparam pela morte de Raul. “Eles dizem que introduzi o Raul às drogas”; no entanto, o escritor não nega isso e fala que o músico tinha personalidade própria.

Para Paulo Coelho, um dos melhores momentos que viveu junto com Raul foi a composição de “Gita”. Mas, confessa que ao lado dele, viu uma das piores cenas vividas pelo artista quando um porteiro impediu sua entrada no projeto musical “Noites Cariocas”.

Ele teria escutado o seguinte: “Ele já foi Raul Seixas. Hoje em dia ele não é ninguém”.

Grandes amigos, o relacionamento não resistiu quando Paulo Coelho foi preso e Raul não deu nenhum tipo de ajuda ou assistência ao parceiro.

Existem aproximadamente 40 publicações lançadas que contam a história do baiano roqueiro, mas Paulo Coelho acha que nenhuma delas retrata na totalidade a vida de Raul.

Sua obra mostrou que foi um artista à frente de seu tempo com temáticas, descrições e narrações baseadas em premissas filosóficas e na espiritualidade, por vezes regadas pelo humor e pela descrença. Mesmo para aqueles que torcem o nariz sobre tais assuntos, não dá pra negar que o conteúdo permanece atual.