Apenas mais um dia passa no calendário e, assim, como a página lida de um livro, o 29 de outubro foi uma quinta-feira contida na semana de nossas vidas atribuladas cotidianamente.

Conjugando os dois itens mencionados no parágrafo anterior, o dia e o objeto em questão, o Brasil tem o 29 de outubro como o Dia Nacional do Livro.

Foi precisamente nesta data que o país registrou a fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em 1810, dois anos após a vinda da família real portuguesa às terras tupiniquins. Em sua esquadra, os lusitanos trouxeram como bagagem uma infinidade de obras literárias pertencentes à Real Biblioteca de Portugal.

Entre elas estava “Marília de Dirceu”, escrita pelo inconfidente e poeta Tomás Antônio Gonzaga.

Aliás, a obra de Gonzaga foi o primeiro livro impresso no Brasil, dois anos antes da fundação da Biblioteca Nacional.

Com valor mais além

Mas, histórias à parte, muita coisa vem mudando no hábito de ler, pois com a maior disponibilização dos textos nas plataformas digitais, como tablets e telefones, essa importante ação cultural na formação educacional e de personalidade das pessoas se tornou mais concretizável. Além do que, um livro conduz a memórias afetivas, familiares e na relação com a comunidade.

De acordo com uma pesquisa, o brasileiro lê até cinco livros por ano. Muitos declararam que a Bíblia é um dos mais consultados e vistos.

Se o livro continua caro? Bem, para 5% dos que responderam à pesquisa, o custo é um fator relevante para que essa parcela de entrevistados não busque mais livros para ler ou se deleitar.

Ainda bem que 34% continuou com o hábito da leitura por receber incentivo de pessoas próximas ou de alguém que estimulou esse gosto.

Sem comemoração

Na cidade catarinense de Balneário Camboriú, o 29 de outubro é comemorado nas escolas e na biblioteca municipal. Entretanto, devido à pandemia de coronavírus, não haverá festas. Mesmo com a restrição, as escolas promoveram contação de histórias e interação com os estudantes.

Se, por um lado, isso prejudicou a socialização e a vida comunitária, por outro lado, os psicólogos da cidade incentivaram a busca pelo livro como uma maneira de diminuir a solidão e as consequências advindas da quarentena.

E foi ótimo para preservar a saúde mental dos idosos, principal clientela da biblioteca de Balneário Camboriú.

O destaque (e até uma tendência) é que as publicações on-line, como o Kindle, vêm ganhando espaço entre os jovens.

A relações públicas Gabriele Silva possui ótimas lembranças da infância embalada pelos livros: “Quando eu era pequena, uma vizinha me emprestou um livro. Inicialmente, ela foi minha maior incentivadora e me emprestava diversos livrinhos”.

Mais caro por quê?

Embora o estímulo à leitura venha se intensificando no Brasil, persiste o ranço de que o livro é pouco acessível e de alto custo para as classes mais pobres.

Como se não bastasse este ponto desfavorável, o projeto de Reforma Tributária elaborado pelo Ministério da Economia prevê um aumento de 12% no preço do livro.

A proposta de unificação de impostos do PIS e da Cofins é bem-vinda, desde que o novo imposto chamado de CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços) não contemplasse na lista de produtos o livro. Na visão do Ministro Paulo Guedes, o livro precisa ser taxado, uma vez que é um artigo voltado para as classes mais ricas.

Tanto leitores quanto as editoras foram pegos de surpresa com tal proposta e suscitou críticas e mobilização de escritores, editores e o público. Além de mostrar os impactos negativos pela tributação do livro, o setor editorial vem colhendo assinaturas e abaixo-assinados pela Internet, objetivando a derrubada da taxação do livro e chamar a atenção dos parlamentares do Congresso para que não aprovem a medida.

A queda de braço entre dinheiro e Literatura não é recente: em 1946, o escritor Jorge Amado conseguiu a isenção de cobrança para o papel usado em livros, jornais e revistas. Gesto que se repetiu em 1967 e na Constituição de 1988, ambos aprovando a alíquota zero para o livro.