Quase um século depois de o Movimento Modernista chacoalhar a sociedade e as artes em geral, o pintor Emiliano Di Cavalcanti é relembrado numa exposição abrigada no Instituto Tomie Ohtake, na zona oeste de São Paulo.

A partir de 2 de junho, o público ávido por voltar a frequentar os burburinhos e os espaços de museus e centros culturais, terá a oportunidade de rever os painéis e quadros do pintor carioca.

Com o nome de “Di Cavalcanti, Muralista”, o Instituto Tomie Ohtake oferece ao visitante um olhar exuberante, colorido e volumoso da realidade proposta pelo homenageado.

Visita à brasilidade

Mesmo que seja verdadeira a imposição do coronavírus no cotidiano do espectador, a exposição é bem-vinda justamente pelo fato de mostrar um universo cheio de matizes, abundância de formas, traços e cores e, finalmente, por ser um bálsamo de alegria na alma fustigada pela pandemia.

A mostra foi organizada pelo curador Ivo Mesquita e agrega cerca de 23 obras produzidas entre as décadas de 1920 a 1970. Nela, existem inúmeras referências ao povo brasileiro, inclusive suas famosas mulatas. Um ponto revelador de seu trabalho pictórico é a confirmação de um estilo marcante de figurações, composições e estratégias na maneira de posicionar seus temas.

Em algumas telas apresentadas como “Serenata” (1925) e “Devaneio” (1927), Di Cavalcanti utiliza os realces das cores, bem como sua preferência pela geometria, quando emprega as figuras do cilindro, da esfera e do cone para definir seus modelos.

Isso o faz aproximar da proposta estética defendida pelo muralista mexicano David Siqueiros (1896-1974), quando este escreveu um manifesto tratando do assunto em 1921. Esse documento serviu de inspiração não só para Di Cavalcanti, como também para os muralistas do México, sendo que o maior expoente desse movimento foi Diego Rivera (1886-1957), esposo da também artista Frida Kahlo.

A estrutura

Montou-se a exposição de maneira cronológica e dividida em duas partes: a primeira vai de 1925 a 1950 e a segunda percorre os anos compreendidos entre 1950 e 1976. O primeiro objetivo é traçar a evolução do muralista brasileiro através das décadas. A outra meta é permitir a percepção dos elementos cotidianos adotados por Di Cavalcanti em suas pinturas: além das mulatas, operários, mulheres, pescadores e eventos festivos estão presentes.

Ao lado de Tarsila do Amaral e de Anita Malfatti, Di Cavalcanti foi um dos grandes artistas plásticos que abraçou as premissas do Modernismo. Mas, ao contrário de suas companheiras, preferiu os grandes espaços, ao invés dos quadros moldurados. Basta checar o seu mural “Alegoria das Artes” (1950) que se encontra na fachada do Teatro Cultura Artística, localizado no centro de São Paulo.

Na opinião de Ivo Mesquita, ele foi o “dono de uma alma brejeira, hedonista, é o trovador da mestiçagem, o pintor que dá visibilidade à vida dos invisíveis, à força de trabalho suburbana na base da sempre desigual sociedade brasileira.”

Frequência controlada

Apesar de ser gratuito, a exposição sobre Di Cavalcanti terá medidas de segurança a serem seguidas; não se permite a entrada sem máscara e haverá aferição de temperatura.

Os visitantes deverão ficar distantes 1,5 m um do outro. Serão disponibilizados totens de álcool em gel e tapetes sanitizantes. O percurso será feito com grupos de 2 a 10 integrantes por sala e de fluxo único.

Local: Instituto Tomie Ohtake – Av. Faria Lima, 201 esquina com Rua Coropés, 88 – Bairro de Pinheiros. Dias e horários de funcionamento: de terça a domingo, das 12h às 17h. Preço: gratuito. Até 17 de outubro.