A arqueologia é uma ciência reveladora, cheia de promessas e de muitas surpresas ao se entender como a humanidade vivia e se adaptava ao local. Por meio de achados como documentos, utensílios, inscrições, ferramentas e textos, a cultura de um povo é desvendada e, desse modo, concretiza-se o encanto por conhecer as civilizações que vieram (bem) antes de nós.

Normalmente, os museus e os arqueólogos nos apresentam objetos, vestimentas, vasos, ourivesaria, livros. Entretanto, a ciência deu um grande passo para algo um tanto quanto inimaginável recentemente.

Do rastro à fragrância

Os cientistas da Universidade do Havaí, Robert Littman e Jay Silverstein, anunciaram a reprodução do perfume usado pela rainha egípcia Cleópatra.

Seu trabalho se concentrou na identificação de moléculas presentes nas substâncias aromáticas utilizadas na fabricação de perfumes. Essas substâncias persistiram no fundo dos objetos.

Mas qual é realmente a relevância dessa descoberta? Pode-se declarar pela primeira vez que o avanço científico penetrou no mundo intangível, já que a fragrância não é algo palpável, sentido pelo tato.

A expectativa dos cientistas é que Cleópatra era cliente da perfumaria que “fazia a cabeça” da elite egípcia. A sede desse laboratório de odores localizava-se na cidade de Mendes.

Um pouco antes

Como dito antes, a arqueologia é basicamente o estudo do passado e, como forma de imitá-la, deve-se voltar a 2021: faziam-se escavações na região de Thmouis, próximo à cidade de Mendes, quando os vestígios de uma fábrica de perfumes foram descobertos.

Nela, havia fornos e recipientes feitos de argila usados para a criação de aromas.

Os cientistas creem que foi este o lugar da produção em que os perfumes se tornaram Famosos e objetos de cobiça por todo o Mar Mediterrâneo. Estima-se que a fábrica tenha cerca 2.300 anos de existência, coincidindo com a vida da rainha egípcia.

Nova perspectiva

O começo da aplicação do método foi o estudo da composição química dos resíduos que ficaram nos objetos. Além disso, os estudiosos foram ‘beber na fonte’ dos escritos gregos e romanos, os quais descreveriam a fórmula do perfume de Mendes. Para isso, os pesquisadores havaianos se juntaram com os egiptólogos Sean Coughlin e Dora Goldsmith.

Para recriar o cheiro único, eles se valeram de ingredientes como mirra, canela, resina de pinheiro e óleo de tâmara. Com relação à base da fragrância, os egípcios não conheciam o álcool; a solução para a época era o uso de óleo vegetal ou gordura animal.

Os aromas eram obtidos a partir da fumaça da queima de ervas e cascas, além da maceração das flores, da madeira e das especiarias.

Curiosidade do olfato

A descoberta dos pesquisadores do Havaí foi publicada na revista “Near Eastern Archaeology”. No artigo, Littman e Silverstein descrevem como conseguiram recriar aproximadamente o perfume mendesiano. Eles o nomearam de “Eau de Cleopatra”.

Revelando agora o segredo em que narizes e cérebros estão ansiosos por saber: o perfume supostamente usado pela rainha que governou o Egito entre os anos de 51 a.C.

e 30 a.C. tem encorpamento e é robusto, mas de cheiro agradável e adocicado.

Ademais, o famoso perfume de Mendes e adorado nas classes mais ricas do Egito tinha uma qualidade de ser duradouro, o que era muito sabido pelos povos do Mundo Antigo. Sua presença era tão marcante e forte que poderia durar dois anos.

Outra curiosidade acerca do perfume vem de sua origem etimológica: a palavra é derivada de “per fummum”, cuja tradução é “pela fumaça ou por meio da fumaça”, remetendo ao processo de criação desse artigo que atiça o olfato. Uma curiosidade que atiça também o reino das palavras e a intelectualidade.