A economia do Brasil tem apresentado várias oscilações nos últimos meses: há dados estatísticos mostrando que algumas coisas vão bem e outras tendem para uma descendente. Não se descarta que estejam ocorrendo variações conjugadas, isto é, há coisas boas e ruins acontecendo simultaneamente.

É o que se pode deduzir diante dos novos números publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que medem o ritmo da conjuntura do trabalho e o nível de emprego no trimestre considerado até agosto deste ano.

A indecisão entre otimismo e preocupação pelo quadro de desemprego é explicada da seguinte forma: existe um pouco de alívio porque a taxa de desemprego no terceiro trimestre de 2019 caiu para 11,8%.

Transportando para a realidade: 12,6 milhões de pessoas estão desocupadas ou com o objetivo de voltarem a ser incorporadas pelo mercado de trabalho. Em comparação com o segundo trimestre, encerrado em maio deste ano, houve diminuição. Antes, o desemprego medido no segundo trimestre era de 12,3%.

Uma lupa para ver melhor

Isso é bom até certo ponto, pois a notícia, ainda que tenha um aspecto benéfico, indica que é necessário fazer muito. A limitação da notícia boa esbarra num dado preocupante: o aumento do trabalho informal. Essa foi a principal fatia da sociedade responsável pela queda da taxa do desemprego.

De acordo com o Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE, criaram-se 684 mil Vagas, incrementando para 93,6 milhões o total de pessoas empregadas.

É o melhor registro desde 2012. Porém, dentre essas novas vagas, quase 87% ingressaram pela via da informalidade.

Assim, existe o total de 38,8 milhões de trabalhadores que não contribuem oficialmente para o INSS --por isso, é o que se denomina de trabalho informal.

Composição da informalidade

O grupo dos informais é composto principalmente por aqueles segmentos que não possuem carteira de trabalho assinada, os que não possuem registro de CNPJ (pessoa jurídica não-oficial) e os que não têm remuneração (ajudam em atividades para a família, por exemplo).

Para se ter uma ideia, as pessoas que trabalham sem carteira chegam a 11,8 milhões e aqueles que trabalham por conta própria atingem o patamar de 24,3 milhões.

Uma das consequências dessa desigualdade entre trabalhadores formais e informais está na falta de contribuição para o tempo de serviço/aposentadoria. O IBGE calculou que apenas 62,4% da população ativa recolhe para a previdência oficial.

Este seria um importante dado que denota um aumento do deficit da Previdência Social, porque se há mais gente informal do que formalmente empregada, a arrecadação diminui.

Melhores áreas de atuação

A indústria e a construção civil são os ramos de atividade que dão um certo alento na geração de empregos. O desempenho do setor industrial foi positivo no trimestre passado, repetindo esse novo aumento em 2,3%. Por sua vez, o ramo da construção começou a "sair do buraco" neste terceiro trimestre (até agosto), com índice positivo de 2,8%. Contudo, os técnicos do IBGE afirmaram que ainda é cedo para aclamar uma recuperação da economia nacional.

Outro sopro de alívio vem das pequenas e médias empresas, conforme levantamento feito pelo Sebrae: das 121 mil vagas abertas somente no mês de agosto, mais de 95 mil foram criadas pelas micro e pequenas empresas.

Neste caso específico, o Sebrae foi buscar outro indicador que mede o aquecimento ou não do mercado de trabalho, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), editado pelo Ministério da Economia. Já as grandes e médias corporações ainda estão com o "freio de mão puxado", pois criaram somente 25% dos 95 mil postos.

Para os dirigentes do Sebrae, foi o melhor mês de agosto dos últimos cinco anos e a euforia é contínua, uma vez que os números vindos desse segmento de trabalho só sobem a cada mês, acarretando a geração de trabalho e, por conseguinte, a geração de renda.

Isto pode significar uma esperança para outro segmento social no tocante ao trabalho: os desalentados. Essa parcela da população é representada por 4,7 milhões que desistiram de procurar emprego. Para eles, a taxa de desemprego recuou 3,9%, a primeira diminuição desde 2014.