Nas últimas semanas, banqueiros, economistas e empresários explicitaram a perda de paciência com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Um grupo de economistas escreveu uma carta, que também teve as assinaturas de outros expoentes do PIB nacional, em que cobravam uma mudança radical nos rumos das medidas tomadas pelo Governo federal, tanto no que diz respeito à gestão da pandemia do coronavírus quanto na área econômica. Ainda que esses sejam os principais focos de reclamações, as queixas vão além dessas duas áreas.
Controle
A mudança no comando do Congresso Nacional, com Arthur Lira (Progressistas-AL) na presidência da Câmara dos Deputados e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) na presidência do Senado, abriu, de acordo com os empresários, um novo canal de comunicação para suas demandas.
De acordo com o que foi apurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Lira e Pacheco já tiveram pelo menos nove reuniões com banqueiros, empresários e executivos. Nas conversas, o que se comenta é que é preciso “controlar” Jair Bolsonaro.
Um empresário que se reuniu com Lira e Pacheco há alguns dias em São Paulo afirmou, sem querer revelar sua identidade, que o que se está querendo, diante do cenário catastrófico da pandemia, é que se tenha um diálogo com o Poder Legislativo por meio dos presidentes das Casas Legislativas, que, de acordo com o empresário, demonstraram ser pessoas “sensatas”.
Sem conversa
O empresário ouvido pelo Estadão afirmou que não foi possível estabelecer um diálogo com Jair Bolsonaro, pois o mandatário não apresentou capacidade de se aprofundar em nenhum tema e "só faz piada e fala palavrão".
Por outro lado, os presidentes da Câmara e do Senado entendem a gravidade do momento e estão trabalhando como interlocutores, afirmou o empresário.
Araújo e Salles
Ainda de acordo com o empresário, um dos tópicos que mais tem levado os empresários a se preocuparem é a má reputação do Brasil no exterior, o que causa prejuízos aos negócios.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, são os principais causadores da imagem “nefasta” do país no restante do mundo, declarou o empresário.
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco também se reuniram por duas vezes com os presidentes dos bancos mais importantes do Brasil. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) informou que as reuniões serviram para que os CEOs das instituições bancárias conhecessem os novos presidentes das Casas e também para que o setor transmitisse aos políticos as principais preocupações com o cenário atual.
Ainda que oficialmente os empresários afirmem que são institucionais os encontros com Lira e Pacheco, nos bastidores está claro que os políticos são figuras centrais para a solução da crise sanitária no Brasil, porém, o impeachment de Bolsonaro ainda é visto com ressalvas.
Mas também existem aqueles que não se importam em revelar a identidade e criticar abertamente a má gestão de Jair Bolsonaro na pandemia da Covid-19, como é o caso de Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimentos BR Partners.
Lacerda afirma que Jair Bolsonaro é despreparado para gerir tanto a crise sanitária quanto a crise econômica e que os erros do mandatário estão documentados. É chegado o momento de “dar um basta a tudo isso”, afirmou o CEO, que ainda declarou que Bolsonaro tem que assumir um compromisso com a ciência e abandonar a ideologia, e que, se não puder fazer isso, seria melhor abandonar o cargo.