Imagens de fogão à lenha, gente cozinhando com materiais improvisados para formar um fogareiro, rodízio de vizinhos para compartilhar o fogão construído por pedaços de tijolos. Uma cena que seria válida há duzentos anos ou que se aproxima dos tempos dos bandeirantes ou dos homens das cavernas.

Ao que tudo indica, essa descrição acima não deve ser apagada tão cedo do cotidiano de brasileiros que já sofrem com vários outros problemas: desemprego, queda de renda, coronavírus.

Não é tão novo o surgimento de “cozinhas coletivas” funcionando com sobras de madeira ou outros materiais passíveis de combustão na periferia de grandes cidades.

O desalento é que essa tendência veio para ficar mais do que se pensava.

O vilão é conhecido e atende pelo nome de gás de cozinha. Sim, o botijão de gás oferecido pelos carros das distribuidoras aperta ainda mais o magro bolso do consumidor.

A Petrobras soltou um comunicado de que aplicará novo aumento no gás de cozinha. Serão mais 5,9% cobrados da população e que vigorarão a partir de amanhã (14).

Assim ninguém aguenta

É o décimo quarto aumento dentro do período de menos de três anos. O preço do GLP (gás liquefeito de petróleo) será de R$ 3,40 por quilo do produto.

A Petrobras afirmou que o reajuste para as distribuidoras é motivado pela busca do equilíbrio com o mercado internacional. Isso significa maior dependência das cotações negociadas fora do país, bem como maior dependência às taxas de câmbio, seja variando para cima ou para baixo.

Prosseguindo com o anúncio, a estatal petroleira evita ao máximo o repasse imediato dos preços para o mercado interno, blindando assim os efeitos da volatilidade originados no exterior.

“O alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”, disse a Petrobras.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o preço do botijão subiu, em média, 1,24% em todo o Brasil. Esse percentual corresponde ao mês de maio somente. Se se levar em conta o aumento por quilograma do GLP, a partir de amanhã, haverá acréscimo de R$ 0,19 por quilo.

Tem coisa pior

O gás de cozinha não é o grande malvado nessa edição de aumento de preços.

Há que salientar o aumento de 4,58% para os usuários do gás encanado. De uma vez só.

Claro que comparando com outros insumos de energia, o gás ainda vence, mas a medalha de prata vai para a luz elétrica: o aumento foi de 5,73%. Desse modo, o grupo Energia foi um dos grandes responsáveis na elevação do IPCA de maio, indicador que mede a inflação. A taxa final foi registrada em 0,83%.

No mesmo dia de anúncio do aumento do gás de cozinha, a Petrobras havia comunicado uma diminuição de 2% no preço médio da gasolina. Entre mostrar o chicote e distribuir balas e caramelos existiu um meio-termo: a empresa disse que não vai alterar o preço médio do óleo diesel. Uma espécie de escalonamento de notícias em todas as gradações possíveis.

O bolso

Em certas regiões do Brasil, como a Norte, o preço cobrado do botijão passa dos R$ 100. Segundo relatos, chega-se a cobrar R$ 113 pelo produto.

Na cidade de Rondonópolis, em Mato Grosso, estima-se que o gás de cozinha custará acima dos R$ 110. Valor que, por coincidência, “come” 10% do atual salário mínimo.

No Nordeste, o Ceará possui o botijão mais caro (R$ 91,92 – média) e está entre os seis mais altos do Brasil, perdendo para Mato Grosso (R$ 104,50), Roraima (R$ 103,23), Acre (R$ 103,18), Rondônia (R$ 100,83) e Pará (R$ 93,89).

Apesar de não resolver o problema, o jeito de economizar o consumo de gás é cada um fazer sua parte: veja se não há vazamentos na mangueira, use panelas com tampa quando estiver cozinhando, não abra o forno com o fogo aceso e use panelas conforme a boca utilizada do fogão.

Procure fazer uma revisão no equipamento e evite o entupimento dos bicos injetores.

Certamente, isso não vai impedir que se gaste dinheiro para comprar o botijão, mas pode dar uma sobrevida ao próprio botijão, fazendo-o durar mais um pouquinho. Quem sabe sobram uns trocadinhos para comprar balas e caramelos.