Nervosismo e insegurança bateram à porta dos investidores nesta terceira semana de agosto e, com isso, o mercado refletiu esses sentimentos nos índices mais conhecidos da economia.
Um deles é o Ibovespa que, apesar de encerrar o pregão com alta, não conseguiu reverter o desempenho negativo de 2,59% registrado no período de 5 dias. A trajetória é idêntica à cotação do dólar, o qual teve queda na sexta-feira de 0,7%.
De longe nem assustou o aumento total de 2,67%, desvalorizando mais o real.
Especialistas atribuem a esse quadro desfavorável à percepção do investidor acerca do aumento de casos da variante delta do coronavírus, à possibilidade do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) em aumentar sua taxa de juros e ao desempenho econômico aquém do esperado da China.
Mais lenha na fogueira
Como se não bastasse, as desordens e desentendimentos no andamento político do Brasil contribuem para que os especuladores adotem um comportamento de extrema cautela. A troca de farpas entre os Três Poderes e os desatinos contidos nas decisões do Executivo vieram em hora mais do que errada, pois embora a vacinação englobe uma perspectiva de melhoria de produção e de emprego, isso foi enterrado de vez com uma pá de cal.
Um contexto provocado e criado num instante infeliz para uma população ávida por uma solução – leia-se: trabalho e grana no bolso.
O cenário de dólar alto favorece o Comércio Exterior brasileiro, o qual segue com resultados positivos há algum tempo. Mas, por outro lado, por ser dependente do petróleo de outros países, o preço dos combustíveis alcança patamares nunca imaginados desde que o Brasil saiu da ditadura militar em 1985.
Para o mais leigo no assunto, as instabilidades no mundo como a tomada de poder no Afeganistão pelo Taleban e a oscilação nos preços das commodities afetam a economia nacional. Isso porque a combinação dos cenários dentro e fora do Brasil compõe o quebra-cabeças do mercado financeiro.
Haja vista as notícias que tratam do calote ao pagamento de precatórios, ao desempenho ruim do setor público, à postura ambígua e incerta de Jair Bolsonaro e a uma promessa de reforma tributária que não avança em sua aprovação. Aliás, este último tema tem sido encarado com dúvida por parte de empresários, sindicalistas e políticos de vários partidos. Para eles, a proposta de reforma tributária é limitada e improvisada.
Causa e consequências
Diante de todo esse panorama confuso e desfocado, é inegável o surgimento de uma falta de segurança em fechar negócios. De quebra, um outro ingrediente colabora para essa inviabilização: a elevação da taxa de inflação.
Não custa nada repetir que os investidores não porão seu capital num lugar que prima pela incerteza e pela bagunça institucional.
E nem existe ambiente propício para transações e operações comerciais.
Especialistas apontam que, com a apresentação do pedido do impeachment contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, a tendência é de que o caldo realmente entorne de vez.
O caldo, nesse caso, significaria mais inflação, mais deterioração da renda, mais desemprego e juros mais altos. Seria a resposta de um mercado temeroso e descrente.
A repercussão do pedido de impedimento de Alexandre de Moraes caiu no colo do Banco Central: o presidente Roberto Campos Neto sentiu o banho de água gelada e afirmou que devido a “ruídos envolvendo questões domésticas”, a expectativa sobre a projeção do Produto Interno Bruto de 2022 será rebaixada.
Ah! Se o leitor acha que desgraça pouca é bobagem, o brasileiro já convive com a sombra da crise de energia elétrica, originada do longo período de estiagem verificado em bacias hidrográficas como a do Rio Paraná, afetando novamente o bolso do consumidor. Até seus hábitos podem mudar, caso o fornecimento seja racionado nos principais estados da região Sudeste e parte da região Sul.
Para o povo, a economia é essencialmente dinheiro para gastar e ter uma vida digna. Está mais para uma utopia. Ultimamente a economia virou uma equação matemática de difícil resolução, cujo resultado é indeterminado, mas de probabilidade ínfima de sucesso.