Em economia, há vários protagonistas e atores envolvidos que fazem e trabalham para que o produto final chegue ao consumidor. Se um deles tiver dificuldade ou sentir algo anormal, é fatal: o preço de venda aumenta para o freguês. Um típico efeito dominó em que uma peça cai e afeta as outras à sua frente.
Acostumados com tantas altas nos combustíveis ultimamente, o cliente facilmente deduz que isso tem reflexo na mesa e no cotidiano. Assim, os alimentos – necessários para nos dar energia e tocar a vida - são os maiores ladrões de dinheiro. Melhor dizendo: o poder aquisitivo, que já era curto, diminuiu ainda mais.
Com aumentos sucessivos de preço, o índice de inflação nos últimos sete meses não sai dos dois dígitos, o que significa que o custo de vida não beira aos 10% ou mais. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cravou o número de 0,95% em março.
Sem Pernalonga
Quando vai ao supermercado, o consumidor se depara com o preço exagerado da cenoura; o aumento foi de 120% nos últimos 12 meses.
Mas ele não é o único culpado, pois outros itens como o tomate, a batata e o café tiveram seus preços elevados em 60%.
O fenômeno da alta do preço da cenoura se espalha pelo território nacional: na Grande Vitória, a comida preferida do coelho Pernalonga (personagem de desenho animado) é vendida desde R$ 9,98 a R$ 18,97.
Distante do Espírito Santo, o estado de Mato Grosso registrou um aumento de 124% na cidade de Rondonópolis. Os R$ 8,49 são um precinho mais barato se comparado com a capital, Cuiabá, onde o legume alaranjado é comercializado entre R$ 15,00 e R$ 18,00 o quilo.
O que vem antes de chegar à mesa
Segundo economistas, essa disparada nos alimentos é resultado de vários elementos que influenciam na mesa do brasileiro.
Dá para enumerá-los: o conflito entre Rússia e Ucrânia, a quebra de safra com seca no Sul e chuva acima do normal no Sudeste, a cotação internacional de alguns produtos e a alta no preço do barril de petróleo.
Aliás, tanto a gasolina quanto o óleo Diesel acumulam uma majoração medida em 27,68% e 38,27%, respectivamente.
E não para por aí: os economistas apontam que a subida na tarifa de energia elétrica, a restrição na importação de fertilizantes e insumos agrícolas cooperam para encarecer os custos de produção.
Referente ao aspecto da importação, não tem muito jeito: é aguardar quando ocorrerá o desfecho da guerra na Ucrânia, visto que a Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil. E esse contexto bélico vai influenciar o preço dos alimentos em geral por algum tempo.
Mesmo que seja encarado como uma fase, o consumidor e seu bolso querem que as coisas voltem ao normal. Mais dinheiro na carteira é mais chance de comprar quantidade e variedade de itens alimentícios.
Saindo de circulação?
Enquanto isso, a cenoura, antes presente nos almoços e jantares, tem perdido visibilidade e espaço. Leandro Moraes Ferreira trabalha num restaurante e reclama do preço, o qual está o dobro do que ele comprava antes.
Ele disse que foi obrigado a “tirar ela um pouco do cardápio e acrescentar outros legumes que estão mais baratos no momento.”
Sua conterrânea mato-grossense, a feirante Ivânia Alves Barbosa dos Santos, afirma que tem dificuldade de encontrar cenoura. Com o preço tão caro, ela escolheu não comprar do distribuidor e não revender ao consumidor final.
De quando em quando, os governos têm sido notabilizados e afamados com os alimentos que sobem repentinamente. Durante a gestão de Dilma Rousseff, o tomate tornou-se ícone. Parece que a administração de Jair Bolsonaro será a da gestão cenoura. No fim das contas, a salada fica muito salgada para os paladares e bolsos dos brasileiros.