Não é preciso ser especializado ou um estudioso em ciências econômicas para compreender que a situação de vários brasileiros, no que se refere a ganhar um salário digno ou ter o bolso mais recheado de dinheiro, é alarmante.
Saíram os números do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os quais medem o vigor do salário do povo brasileiro no primeiro trimestre de 2022.
Pouco se deve comemorar: o rendimento médio despencou 8,7% em comparação com igual período (janeiro a março) de 2021. Agora, ganha-se em média, uma renda de R$ 2.548,00.
Outros cenários
Ao se olhar para a quantidade de domicílios que recebem rendimentos, a situação é um pouco melhor: se, em 2021, 28,55% não dispunham de renda oriunda do trabalho, em 2022, o índice baixou para 23,35%. Mesmo assim, é algo a ser pensado, pois a cada um de quatro lares não está trabalhando ou não tem algum tipo de ocupação.
Em termos regionais, as regiões Sul e Sudeste foram as mais afetadas na baixa da renda, com 8,2% e 6,1% respectivamente.
Já a análise que leva em conta homens e mulheres, pior para elas com diminuição de 6,7% contra queda de 5,5% para os homens.
A conclusão emitida pelo Ipea é de que o encolhimento da renda tem como uma das causas a entrada de trabalhadores com pouca qualificação no mercado profissional.
Mais uma voz
Tanto a divulgação do estudo do Ipea quanto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ocorreu no dia 10/06.
O relatório do IBGE está em consonância com o do Ipea: a tendência de queda nos rendimentos do brasileiro é reforçada. Ele destaca que a renda da população é a menor desde 2012, totalizando o valor de R$ 1.353,00.
No ano de 2012, registrou-se o ganho médio de R$ 1.417,00.
Tanto em 2020 quanto em 2021, notou-se o aumento da participação do trabalho na composição da renda: foi de 72,8% para 75,3%. Ainda assim, com mais gente trabalhando, houve queda de 3,1% no total de todos os rendimentos mensais da massa laboral.
Fatores
A analista de pesquisa Alessandra Scalioni Brito aponta que os efeitos da pandemia foram decisivos na manutenção do mercado de trabalho e que a retomada dos empregos está acontecendo, mas num ritmo mais lento do que o esperado.
Outro vilão está no aumento da taxa de inflação, corroendo o poder de compra não só de salários da ativa, como de aposentadorias e pensões.
Mudanças nas regras da distribuição do Auxílio Emergencial contribuíram para esse quadro desolador. O número de lares que recebiam algum tipo de ajuda social do Governo encolheu de 23,7% para 15,4%.
Alessandra opina que o Auxílio Emergencial tinha prazo determinado para vigorar, o que foi demonstrado pelos dados colhidos de 2021. A consequência mais imediata disso foi a intensificação da desigualdade social. Ela reconhece que esses dois elementos, inflação e queda de renda, deixou o Brasil numa conjuntura pior.
Emparelhados
Apesar de mencionar que o Sul e Sudeste obtiveram perdas na renda, não significa que o Norte e o Nordeste tenham encontrado melhor desempenho.
Ao contrário, elas permaneceram com valores baixos.
“O mercado de trabalho é mais informalizado no Norte e no Nordeste, então a renda do trabalho ali tende a ter uma distribuição mais desigual. As regiões Norte e Nordeste tendem a receber mais benefícios de programas sociais e como houve essa mudança no Auxílio Emergencial, elas foram mais afetadas entre 2020 e 2021”, declarou Alessandra Brito.
A conclusão de todo esse quadro desenhado vai ao encontro do que muitos brasileiros pensam ou sentem: independentemente da região geográfica, do tipo de trabalho exercido e da equidade de gênero no campo profissional, o sufoco é grande, as contas chegam e o dinheiro voa em um tempo cada vez mais curto. Alguém acredita que ele cai ou chove do céu? É um cenário que, quando se estudam as inúmeras variáveis que influenciam a situação econômica – principalmente a das famílias – torna-se surrealista.