Na juventude, é comum os colegas fazerem algum tipo de brincadeira com o propósito de socialização e pertencimento a um grupo social. Ultimamente, a maneira de se inserir na sociedade ganhou traços mais perigosos e aterradores entre os adolescentes das escolas.

Se antes, pais, professores e diretores se preocupavam com a brincadeira da “Baleia Azul”, da “Momo”, do jogo do desmaio e de inalação de aerossóis, agora vídeos publicados na Internet andam estimulando o “desafio da rasteira”.

Também conhecido como “quebra-crânios” ou roleta humana, o suposto jogo “inocente” se compõe por três jovens, um enfileirado ao lado do outro.

O que fica no meio dos outros dois começa a pular. Em determinado ponto, os outros dois esticam as pernas, obrigando o do meio a perder o equilíbrio e cair direto no chão.

Começou antes

É fato que a propagação dos vídeos ajudou na disseminação da rasteira, mas em novembro de 2019, uma estudante de 16 anos morreu em Mossoró, Rio Grande do Norte, vitimada por traumatismo craniano. Emanuela Medeiros da Costa estudava na Escola municipal Antônio Fagundes. Após o acidente, a jovem foi encaminhada ao hospital. Na tomografia, verificou-se uma hemorragia no cérebro. Em seguida, Emanuela sofreu uma parada cardíaca, mas não resistiu e faleceu quatro dias depois.

A repercussão na escola foi muito ruim, gerando comoção e despertando a atenção dos educadores.

A escola de Mossoró ficou fechada por três dias de luto. Os alunos, os envolvidos neste triste episódio e a família da vítima tiveram acompanhamento psicológico. Mesmo com este tipo de suporte, não se escondiam as crises de choro espalhadas no ambiente estudantil.

Outra providência tomada na escola Antônio Fagundes foi a orientação de professores para que eles conversem e dialoguem com os estudantes, com o objetivo de prevenir estes tipos de brincadeiras que podem ter um final trágico.

Porém, a exclusividade do “quebra-crânios” não é só do Brasil; em fevereiro, um colégio localizado na cidade de Chacao, Venezuela, escreveu uma mensagem no Twitter. Nela, o Colégio São Tomás de Aquino expressa preocupação pelas consequências nocivas e agressivas da brincadeira a que os jovens se expõem.

Mobilização e riscos

Na cidade de São Paulo, as escolas começaram a fazer campanhas de conscientização para os alunos, pais e funcionários, no intuito de evitar danos (às vezes irreversíveis e fatais) para a saúde física e mental das crianças e adolescentes.

Para médicos e ortopedistas, os alunos que participam da “rasteira” não possuem a noção do grande perigo que correm. Quando alguém cai de costas, uma das regiões corporais mais vulneráveis é a cabeça, da qual pode sobrevir um trauma ou lesão interna. A coluna vertebral é outra parte do corpo afetada que, dependendo do impacto contra o solo, pode deixar uma pessoa paraplégica. Os médicos alertam para que os jovens redobrem seus cuidados e atenção, caso tentem fazer a brincadeira com pessoas mais velhas.

Entre os adolescentes existe um maior risco potencial de danos no cérebro, pois a área do córtex pré-frontal não está totalmente formada nesta fase da vida. A função dele (do córtex) é controlar a impulsividade e a avaliação de riscos das ações humanas, o que do ponto de vista fisiológico, torna os jovens mais sensíveis às situações arriscadas sem a devida ponderação.

A psicóloga Carla Guth recomenda que os pais eduquem os filhos, evocando a responsabilidade e o respeito para com todos do meio social: “os pais precisam educar os filhos sobre direitos e deveres, mostrar que os atos têm consequências”.