Desde 2012 trabalhando como especialista independente das Nações Unidas para a Promoção da Ordem Internacional Democrática e Equitativa, Alfred de Zayas conduziu, no final do ano passado, uma visita oficial da ONU à Venezuela.
Em entrevista ao jornal alemão Zeitgeschehen im Fokus, ele relatou suas observações in loco sobre a situação atual de crise Política e econômica na Venezuela. Segundo ele, a realidade é bem diferente do retratado pelos meios de comunicação internacionais.
Economia
“Eu estive na Venezuela durante oito dias de intensas reuniões consecutivas.
Eu pude andar livremente para onde eu queria. Não vi nenhuma criança de rua e não vi nenhuma pessoa pedindo esmola. Eu não vi um único mendigo em Caracas, embora tenha caminhado e dirigido por toda a cidade. Também caminhei pelos bairros mais pobres, onde eu vi filas de pessoas esperando por alguns produtos subsidiados ou racionados. A situação tem muitas facetas, e eu não digo que não haja insegurança alimentar ou nenhuma escassez de medicamentos. Estou simplesmente dizendo que a existência de casos de crianças morrendo de desnutrição ou de falta de medicamentos não caracterizam 'crise humanitária'”, declarou o professor norte-americano.
O que existe, segundo de Zayas – e conforme diversos flagrantes por parte do governo e de veículos de imprensa – é uma “guerra econômica”, na qual os produtos são escondidos em galpões de supermercados privados, o que transmite a sensação de escassez.
Depois, esses mesmos produtos são vendidos no mercado negro a preços exorbitantes ou contrabandeados para fora do país – para o que os governos de países vizinhos façam vistas grossas, de acordo com o especialista da ONU.
“O que nós podemos observar na Venezuela é o resultado de uma guerra econômica alvejada. São vários países participando, inclusive da Europa.
A desinformação sobre a Venezuela tem sido bem-sucedida […]. Você tem que estar no local para ver que a situação, não é como você lê no New York Times. Se você acessar os principais meios de comunicação, terá a impressão de que o país está a beira do colapso”, explicou.
O especialista da ONU afirmou na entrevista que a cesta básica distribuída atualmente para as camadas mais pobres duas vezes por mês é formada por 16 kg de açúcar, arroz, óleo de cozinha, farinha, fubá, leite em pó e outros produtos.
“Portanto, não há nenhuma 'Fome' na Venezuela, apesar das notícias e generalizações da mídia”, concluiu o renomado acadêmico. “Há, contudo, uma escassez em vários setores, e alguns produtos são difíceis de encontrar, mas a população não passa fome como, por exemplo, em muitos países da África e da Ásia – ou mesmo nas favelas de São Paulo e outras áreas urbanas do Brasil e demais países latino-americanos.”
Ainda em suas palavras, “eu vi várias mercearias e mercados […]. Não é verdade que eles estejam vazios. É claro, alguns têm prateleiras vazias […], mas sempre houve o suficiente para todos”.
Violência
Alfred de Zayas foi à Venezuela para analisar a situação dos direitos humanos, especialmente nas áreas econômica, social e cultural.
Ele conversou com 35 ativistas de ONGs humanitárias, representantes da indústria e do comércio, membros da Igreja, vítimas de protestos violentos, parentes de presos, deputados opositores e ministros do governo.
“Eu não vi nenhuma violência, embora a imprensa insista em nos falar sobre isso. Como um oficial da ONU, eu já estive em vários países onde você pode 'sentir o cheiro' da violência, onde você sente a tensão no ar e que você mesmo pode estar em perigo. Esse não é o caso da Venezuela. Existem homicídios – muitos deles associados com as drogas e o crime internacional. Honduras é muito pior”, completou.
“Na nossa mídia há pouco interesse no verdadeiro jornalismo investigativo, em descobrir qual a raiz dos problemas na Venezuela. Nós recebemos uma caricatura da situação e essa caricatura se torna um dogma”, finalizou o enviado da ONU.