A Rússia instalou recentemente o sistema de mísseis Iskander-M em seu exclave de Kaliningrado (no Báltico, entre Lituânia e Polônia). O sistema permite que Moscou se proteja de foguetes, aviões ou helicópteros da Otan e permite o ataque a centros de comando.
A ação foi criticada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte. O Ministro da Defesa lituano, Raymundas Caroblis, disse que o Iskander-M “é uma ameaça não só para a Lituânia, mas para toda a Europa”, segundo o diário italiano Il Giornale.
O ministro da Defesa da Letônia, Edgars Rinkevics, defendeu o fortalecimento das posições da OTAN, uma necessidade que, segundo ele, “tem sido confirmada pelas ações práticas da Rússia”, cita o portal alemão Deutsche Welle.
Por sua vez, a Rússia argumenta que a instalação de armas e unidades militares em território russo é uma questão interna de decisão exclusiva da Rússia e que não viola a soberania de nenhum país.
O chefe do Comitê de Defesa e Segurança do Senado russo, Viktor Bondarev, declarou à agência russa Sputnik News que essa atitude da Rússia deve ser considerada “como uma resposta simétrica às ações da OTAN” e como um reforço da capacidade defensiva de seu país. “Não supõe uma ameaça à segurança internacional mas [sim] garante uma potente defesa da Rússia nas condições da ampliação da OTAN para o Leste”, afirmou.
Andrey Klimov, vice-presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara Alta do Parlamento russo, seguiu a mesma linha, em entrevista ao canal russo RT.
“Fazemos isso em nossa terra soberana. Enquanto que os sistemas de defesa antimísseis estadunidenses se encontram longe de suas fronteiras. E seu contingente militar se encontra em todo o perímetro da Rússia”, destacou.
OTAN nas fronteiras
Nos últimos anos a OTAN tem se expandido cada vez mais para as fronteiras da Rússia. Como ressaltou em dezembro o ministro russo da Defesa, Sergey Shoigu, o número de efetivos das forças de ação rápida da aliança atlântica nas fronteiras europeias da Rússia aumentou quatro vezes em cinco anos e meio, alcançando 40 mil militares.
As atividades de reconhecimento aéreo e marítimo também aumentaram nos últimos anos.
Os EUA também têm atualmente sistemas antimísseis integrados às atividades da OTAN na Romênia e na Polônia, instalados para, supostamente, se defender de mísseis iranianos. O orçamento do Departamento de Defesa (Pentágono) para o ano fiscal de 2019 prevê ainda a instalação de um segundo posto na Polônia.
A Rússia mantém um alerta a respeito dessas bases, que podem ser usadas para atacar seu território.
Além que se ampliou após o pedido de orçamento para o ano fiscal de 2019, que aumentou de 4,8 bilhões para 6,5 bilhões de dólares os gastos na expansão dos esforços do governo dos EUA “para deter a agressão russa” no Leste Europeu. Isso representa um incremento de 1,7 bilhão de dólares.
A Iniciativa de Contenção Europeia do Pentágono, voltada a proteger seus aliados europeus de supostas ações militares russas, pretende aumentar a presença terrestre dos EUA em solo europeu e realizar atividades para capacitar forças de combate, como treinamento e exercícios conjuntos.
Ucrânia
A Ucrânia é um ponto chave da estratégia dos EUA/OTAN contra a Rússia.
O golpe de Estado de 2014 teve uma participação pública e outra oculta de Washington para retirar o presidente Viktor Yanukovitch, que hesitou em se aliar ao Ocidente.
Desde então, o novo governo ucraniano do pró-ocidental Petro Poroshenko tem combatido os separatistas que declararam independência da região do Donbass (Donetsk e Lugansk) no leste do país com forte apoio norte-americano.
De acordo com o site “Defense One”, desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 (uma resposta à mudança de regime e ao avanço estadunidense), os EUA e seus parceiros ajudaram as forças ucranianas a crescerem de 100 mil para 250 mil tropas em 2017.
Entre o início da guerra e o ano passado, os EUA investiram mais de 266 milhões de dólares em treinamento e equipamento das forças ucranianas, segundo a Marinha americana.
Armas de países da OTAN, especialmente dos EUA, são utilizadas no combate aos milicianos do Donbass e atualmente suas forças treinam militares ucranianos em três bases operadas no oeste da Ucrânia. Dali, eles são enviados para lutar no leste do país.
Além disso, em meados do ano passado a OTAN realizou exercício militar no Mar Negro e na costa sudeste da Ucrânia, nas portas de Odessa.
A aproximação de Kiev à aliança militar ocidental preocupa a Rússia, uma vez que o governo ucraniano é fortemente antirrusso (“russofóbico”, como denuncia o Kremlin) e o país é a barreira final para o estacionamento de forças militares de guerra no que seria a maior fronteira de um membro da OTAN com a Rússia.
O governo ucraniano pretende se juntar ao bloco militar em 2020 e suas forças armadas já se preparam para atuar nos mesmos padrões da OTAN.