Em vídeo publicado no YouTube, no dia 17 de abril, o Dr. Drauzio Varella alerta para o risco dos cortes anunciados pelo governo no Censo 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A confirmação de que a verba empregada no Censo Demográfico será reduzida em 25% foi anunciada no dia 10 de abril, quarta-feira, segundo a página do Valor Econômico, após pressões sobre o IBGE em Brasília.

Em nota oficial, o instituto declarou que está sendo feita uma revisão da operação que, de 10 em 10 anos, faz o mapeamento mais abrangente do país desde 1940.

Atualmente contendo 119 perguntas em sua versão por amostragem, o Censo coleta dados detalhados sobre a população brasileira a fim de mostrar a situação das diversas regiões e guiar políticas públicas que visem à melhora do Brasil como um todo.

O maior temor referente à redução de verba está no número de contratados, que terão uma remuneração mais baixa, e no modo como irão se locomover pelo país. A reformulação das perguntas deve ocorrer para que a pesquisa responda apenas a aspectos "fundamentais", para que os recenseadores fiquem menos tempo em cada casa e possam percorrer um número maior de domicílios no mesmo dia.

Crise no IBGE

Ainda em fevereiro, a nova presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, comentou durante sua cerimônia de posse sobre a difícil situação enfrentada pelo órgão, que havia perdido mais de 30% de seus funcionários.

Embora Paulo Guedes, responsável pela indicação de Guerra, tivesse adiantado a necessidade de simplificar o Censo, ela mesma declarou que a pesquisa seria uma prioridade.

Em entrevista para a Globo News, Paulo Guedes chegou a dizer que a pesquisa tinha perguntas demais, alegando, de maneira equivocada, que o Censo de países desenvolvidos conteria apenas 10 questões –algo que, na verdade, só ocorre nos Estados Unidos.

Os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm estudos com a mesma média de perguntas realizadas no Brasil, em torno de 100.

Na verdade, apenas o questionário por amostragem, aplicado a 11% da população, contém 119 perguntas. A versão básica é composta por 49 questões, estas, sim, respondidas por todas as casas do país.

Na ocasião da posse, Guedes ainda brincou que "quem pergunta demais acaba descobrindo demais", colocando-se na contramão das tendências mundiais em relação aos estudos demográficos –afinal, quanto mais se pergunta e se descobre, mais acertadas podem ser as decisões governamentais em direção ao bem-estar da população.

Esclarecimentos sobre a atuação do IBGE

No início de abril, ao comentar sobre o aumento do desemprego no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro criticou os métodos adotados pelo IBGE, fazendo também afirmações equivocadas em entrevista à Record TV. A metodologia do Instituto segue as diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que separa pessoas sem ocupação em categorias específicas, de acordo não apenas com a realização de atividade remunerada, mas também com o fato de estarem ou não procurando emprego.

Ao contrário daquilo que foi declarado pelo presidente, beneficiários do Bolsa Família não são automaticamente classificados como "não-empregados", havendo inclusive um outro estudo anual voltado para aferir as ocupações de quem recebe o benefício.

O mesmo vale para o caso do auxílio-reclusão, dado a famílias de presidiários que, em liberdade, contribuíram com a previdência. Bolsonaro, na entrevista, deu a entender que o indivíduo a receber o auxílio é considerado empregado, contudo, a informação não procede, uma vez que o pagamento é feito à família do indivíduo. As condições do preso em relação ao emprego também podem variar, caso ele exerça alguma ocupação dentro do local em que está recluso.

O futuro do IBGE, bem como de diversos outros órgãos oficiais é incerto diante da crise generalizada em que o país se encontra. Na ânsia pelo corte de gastos, no entanto, há o risco de que os elementos mais importantes para uma gestão eficiente sejam prejudicados na medida em que governantes olham para soluções paliativas no curto prazo.