O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, Deltan Dallagnol, concedeu uma entrevista ao jornal Gazeta do Povo, do Paraná, e criticou o presidente Jair Bolsonaro que, segundo ele, está tomando caminhos distantes do combate à Corrupção ao interferir em instituições como a Receita e a Polícia Federal. Na visão de Dallagnol, os três Poderes estão enfraquecendo as investigações e isso pode ocasionar um retrocesso gigantesco no combate à impunidade. Em relação ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o procurador acredita que Bolsonaro está impedindo ele de realizar os seus trabalhos ao barrar até mesmo indicações que Moro fez para assumir cargos estratégicos dentro do seu Ministério.

Para Dallagnol, Bolsonaro está atuando em órgãos onde se encontra supostos envolvimentos de sua família. Interferir na Receita e na PF é algo indevido perante o que o próprio mandatário do Brasil defendeu durante a sua campanha à Presidência do Brasil. O coordenador da força-tarefa deseja que o ex-capitão continue a abraçar aquilo que ele defendeu em sua campanha: a pauta anticorrupção.

Na visão de Dallagnol, além de Bolsonaro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) também atacam o combate à corrupção. Eles querem enfraquecer as ações investigativas e, dessa forma protegem os criminosos. De acordo com Dallagnol, esse movimento para abafar os processos e livrar corruptos da cadeia não está sendo feita apenas por uma ou duas pessoas, mas sim, por um movimento que engloba os três Poderes.

Enfraquecimento de Moro

Deltan Dallagnol alertou que Bolsonaro tem agido de uma forma equivocada enfraquecendo os trabalhos do seu ministro. Ele citou as supostas tentativas de interferências na PF, na Receita Federal, mudanças no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), desejo do presidente de não indicar para a Procuradoria-Geral da República (PGR) alguém que esteja na lista tríplice do Ministério Público Federal (MPF) e a falta de prioridade que o Governo tem demonstrado em relação ao projeto anticrime elaborado pelo ex-magistrado Sergio Moro.

O procurador também criticou o desprestígio de Bolsonaro pelo auditor da PF, Roberto Leonel, indicado por Moro ao Coaf, e que realizou um excelente trabalho na Lava Jato, tendo conseguido a confiança do ministro da Justiça.

Vale ressaltar que Dallagnol tem sido a sugestão de Moro a Bolsonaro para que ele seja o procurador-geral da República. Contudo, não se sabe se Bolsonaro pretende indicá-lo. Em meio a todos esses acontecimentos, Moro se mantém calado e causando estranheza na PF pelo seu silêncio.