O ex-procurador da força-tarefa da operação Lava Jato de Curitiba Carlos Fernando dos Santos Lima concedeu uma entrevista exclusiva à BBC News Brasil por telefone, publicada nesta terça-feira (3), na qual criticou duramente ações do presidente Jair Bolsonaro que, na visão do ex-procurador, seriam formas de proteger o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), das investigações judiciais.
Para Lima, o mandatário brasileiro hoje é visto como uma "fonte de preocupações". Segundo ele, Bolsonaro causou estranhezas ao mandar o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o Banco Central e criticou trocas em nomes-chave da Receita Federal.
Para ele, há por trás disso uma suposta proteção ao filho que é senador.
De acordo com as informações da matéria, Flávio está supostamente envolvido em apropriações de salários dos assessores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A operação que cuida dessa investigação foi batizada de Furna da Onça.
Na concepção de Lima, esse pequeno ato ilícito que pode ter sido cometido por Flávio está ocasionando um afastamento do presidente no combate à corrupção, uma das bandeiras que Bolsonaro prometeu durante a sua campanha eleitoral. O ex-procurador caracterizou a ida do Coaf para o Banco Central, onde se manterá sem comunicação com o Ministério Público, e as mudanças em nomes importantes da Receita como uma "situação dramática' criado pelo presidente.
Conversas vazadas
O ex-procurador, que foi um dos grandes nomes da Lava Jato, ao lado de Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, também foi alvo de divulgações de conversas pelo site The Intercept Brasil, no que ficou conhecido como "Vaza-Jato".
O ex-procurador se defendeu do vazamento e afirmou que as conversas entre seus colegas sobre a morte da ex-primeira-dama, Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eram apenas conversas de botequim, nada mais que isso.
De acordo com ele, ninguém resistiria ao ter conversas particulares vazadas durante uns cinco anos. Ele citou que nem mesmo o Papa resistiria.
Vários políticos ligados ao PT criticaram os procuradores que ironizaram a morte da esposa de Lula. Segundo o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o episódio foi considerado triste após as mensagens mostrarem esse descaso com a dor de Lula.
Para Haddad, não houve respeito por parte dos procuradores à família do ex-presidente.
Segundo informou o portal UOL, a procuradora Jerusa Viecili, da força-tarefa de Curitiba, pediu desculpas pelas ironias através das redes sociais. Ela enfatizou que errou e, por essa razão, decidiu pedir desculpas a Lula, a pessoa que mais teria sofrido com isso.