O Ministro da Justiça e ex-juiz, Sergio Moro, negou ter sido o autor da investigação contra o festival de música Facada Fest. Moro declarou através de suas redes sociais que não partiu dele a iniciativa para a abertura do inquérito, porém demonstrou apoio à investigação em sua postagem.
O Ministro foi apontado pelo jornal Folha de S.Paulo, na última quinta-feira (27), como o responsável pela abertura do inquérito que investigará quatro artistas de Belém (PA). Os responsáveis pelo Facada Fest serão investigados por pelos supostos crimes de apologia ao homicídio e crime contra a honra do presidente Jair Bolsonaro.
Membros das bandas Delinquentes, Filhux Ezkrotuz e THC foram investigados nesta quinta-feira (27) pela Polícia Federal em Belém (PA).
A iniciativa do inquérito não foi minha,como diz a Folha de SPaulo, mas poderia ter sido.Publicar cartazes ou anúncios com o PR ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão.É apologia a crime, além de ofensivo.https://t.co/SGQeBlYbpR
— Sergio Moro (@SF_Moro) February 28, 2020
Para Sergio Moro, existe uma diferença entre crítica e apologia ao crime. Ainda no Twitter, ele questionou se seriam liberadas as ofensas ou apologias ao crime caso fosse outro agente político no lugar de Bolsonaro e afirmou que não se tratam apenas de "cartazes anti-bolsonaro" como diz a matéria publicada pela Folha de S.Paulo.
Muito me surpreende, com todo o respeito, essa crítica da FSP ao inquérito.
— Sergio Moro (@SF_Moro) February 28, 2020
O Ministério da Justiça apontou através de consultoria a necessidade da investigação, e informou que cabe ao Ministério Público e à Polícia Federal decidir se cabe uma ação penal para o caso.
Os cartazes em questão foram criados para a divulgação do evento Facada Fest que acontece na capital paraense desde 2017.
Nas imagens de um deles, o presidente Jair Bolsonaro é retratado como um palhaço, e comparado ao famoso palhaço Bozo, sendo empalado por um lápis.
Em outro cartaz, Bolsonaro é retratado vomitando fezes enquanto segura uma arma com uma das mãos e usa uma cueca com a bandeira dos Estados Unidos. Os dois primeiros cartazes foram criados pelo artista Paulo Victor Magno.
Em um terceiro cartaz, a cabeça de Bolsonaro aparece decapitada, com um bigode Hitler e uma suástica na testa sendo segurada por um índio.
Repercussão do caso
Com a abertura do inquérito pela Polícia Federal, o caso ganhou repercussão e se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais, chamando a atenção de diversas pessoas, inclusive influenciadores.
Em sua conta no Twitter, a jornalista Rachel Sherazade debochou do assunto sugerindo que seus seguidores compartilhassem sua publicação e ajudassem na divulgação do evento, segundo ela, em nome da honra do presidente.
organizadores do #facadafest foram convocados a prestar depoimento à PF de Sergio Moro por apologia de crime e crime contra a honra de Jair Bolsonaro. Não vamos divulgar o evento nem os cartazes do grupo punk de Belém, taokey? Peço q não retuítem, pela honra do nosso presidente! pic.twitter.com/XtZsg1IJ6P
— Rachel Sheherazade (@RachelSherazade) February 28, 2020
Já a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, informou que o cartaz, que supostamente desagradou o ministro Sergio Moro, foi compartilhado milhares de vezes no Twitter e se tornou um do assuntos mais comentados da rede social.
A investigação contra um festival punk, feita com a anuência de Moro, não apenas gerou polêmica como transformou o evento em um dos assuntos mais comentados do país. Os cartazes tidos como suspeitos foram replicados várias e várias vezes no Twitter. https://t.co/VmEEktYIZH
— Mônica Bergamo (@monicabergamo) February 29, 2020
O jornalista William De Lucca questionou a parcialidade de Moro, que apoia a investigação a um festival que fere a honra do presidente Jair Bolsonaro, mas que não faz nada perante a imagens do ex-presidente Lula decapitado em camisetas, sangrando na capa da revista Veja, ou sobre os bonecos de Lula e Dilma sendo enforcados durante uma manifestação.
Moro mandou a PF investigar cartaz da #facadafest por "apologia ao crime", com um bozo empalado. Certamente deve ser, ao contrário do que enforcar bonecos de presidentes, camiseta com presidente decapitado, capa de revista com ele sangrando e quadro feito com cartuchos de arma. pic.twitter.com/mUasZsGwqr
— William De Lucca (@delucca) February 28, 2020