A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, anunciada na última sexta-feira (15), causou uma série de reações e críticas. Seu antecessor na pasta, Luiz Henrique Mandetta, também criticou a decisão e a conduta do governo federal em meio a pandemia do coronavírus.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Mandetta lamentou a saída de Teich, vendo que o Brasil "perdeu tempo" em combater assertivamente o Covid-19 nos menos de 30 dias em que o ministro esteve na pasta.

'Mês perdido'

"A única coisa que eu sei é esse foi um mês perdido, jogado no lixo", disparou o ex-ministro, que foi às redes sociais após o anúncio da saída de Teich para pedir "orações" para o país e o SUS (Sistema Único de Saúde)

Na visão de Mandetta, não há como saber a direção que o governo dará ao combate ao coronavírus e voltou a reiterar que "reza" para o sucessor de Teich possa conseguir planificar a diminuição da disseminação da doença.

"Não dá para dizer nada, nem sobre o novo ministro. O momento agora é de oração, gostaria de dizer que, neste momento, estou rezando um terço", disse.

Teich não pôde fazer muito, disse Mandetta

Em outra entrevista, desta vez ao Correio Braziliense, o ex-ministro da Saúde voltou a reiterar o "mês perdido" pelo governo brasileiro por causa das polêmicas que levaram a demissão de Nelson Teich.

"O Teich não teve tempo de fazer muita coisa e as únicas medidas que ele teve foram de exonerar o pessoal que estava lá", disse Mandetta.

"A gente deveria ter aumentado o número de leitos, se aproximado mais da China nessa questão de conseguir os respiradores. Perdemos um mês, que era a espinha dorsal de todas as tentativas", completou o ex-ministro.

Mandetta e Teich x Bolsonaro

As saídas de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich têm trajetórias semelhantes. Ambos tiveram atritos com o presidente Jair Bolsonaro em relação ao modo como o Brasil deveria combater a disseminação do coronavírus, principalmente nas questões do isolamento social e no uso da cloroquina no tratamento de pacientes.

Bolsonaro defende o fim do isolamento social para reabrir a economia, contra medidas usadas em diversos países e estados brasileiros apontando que este seria o método mais fácil e eficaz de conter a curva de contágio do Covid-19. Mandetta e Teich fizeram várias declarações defendendo a manutenção da postura de isolamento social e fechamento de comércios considerados não essenciais.

Quanto à cloroquina, os dois ex-ministros da Saúde também se opuseram à posição do presidente quanto ao uso do remédio. Bolsonaro quer estender os protocolos de uso da droga para pacientes com sintomas mais leves, ao contrário da situação atual, em que o remédio é administrado apenas para pacientes de estados mais graves.

Para Mandetta, o coronavírus ainda não chegou ao pico de contágio, o que deve acontecer em breve.