Roberto Abdenur é um diplomata aposentado que tem no currículo atuação como embaixador em Pequim, no período de 1989 até 1993, e nos Estados Unidos, de 2004 até 2006.
Abdenur, em entrevista à BBC News Brasil, afirmou que os ataques à China feitos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pode trazer "graves danos" ao Brasil caso o país asiático adote barreiras comerciais aos produtos brasileiros e procure outros parceiros comerciais.
Ainda que muitas pessoas acreditem que a China seja dependente das importações do Brasil em itens como açúcar, celulose, carne, entre outros, a China tem procurado por outros fornecedores e, em 2020, já fez retaliações econômicas a um outro importante país com que tem relações comerciais, a Austrália.
A superpotência asiática, vale ressaltar, reagiu às críticas de autoridades da Austrália que pediram que fosse realizada uma investigação internacional para determinar a origem do novo coronavírus.
De acordo com dados do Banco Mundial, a Austrália ocupa a sexta posição como o maior país que exporta para a China. O Brasil está logo atrás, na sétima posição.
Irresponsabilidade
Roberto Abdenur classificou as críticas do filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma "irresponsabilidade". "O Brasil está metendo os pés pelas mãos de maneira desarrazoada e contraproducente. Eduardo Bolsonaro fala como deputado, como filho do presidente e como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
É de uma imensa irresponsabilidade, agora ameaçando causar danos graves aos interesses do Brasil com a China", lamentou Abdenur.
O especialista afirmou ainda que se ilude quem acredita que o país comandado por Xi Jinping irá depender eternamente das importações do Brasil.
A China está investindo em projetos agrícolas relevantes na África, em regiões que possuem clima e solo parecidos com o Brasil, além de estar em negociações para aumentar a produção de soja na Ucrânia e na Rússia, explicou Abdenur.
Pelo Twitter, o filho de Jair Bolsonaro, ao falar da adesão do Brasil a uma lista de países comandada pelos Estados Unidos contra o uso de tecnologia 5G da empresa de tecnologia Huawei, fez acusações diretas de espionagem contra a China.
Em resposta, a embaixada da China no Brasil divulgou uma nota duríssima contra a publicação de Eduardo.
A embaixada chinesa costuma se pronunciar somente com autorização direta do Governo em Pequim.
O comunicado da embaixada classificou como "totalmente inaceitável" a declaração do parlamentar.
Esta não foi a primeira vez que a embaixada da China respondeu às críticas feitas por Eduardo Bolsonaro, além de outras autoridades do Brasil, porém, na avaliação de Roberto Abdenur, esta foi a resposta mais direta, já que menciona que o Brasil poderá sofrer consequências.