O filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro voltou aos holofotes após se envolver em uma nova polêmica com a China após publicar em seu Twitter que o Brasil deveria aderir a uma aliança para investigar o país asiático sobre o uso de tecnologia 5G da Huawei. Segundo Eduardo, a China estaria usando essa tecnologia para realizar espionagem a outros países.
Em entrevista para o site BBC News, o ex-embaixador Roberto Abdenur em Pequim (1989 a 1993) e nos Estados Unidos (2004 a 2006), classificou a postagem do deputado-federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos-SP) como grave.
Ele teme que o assunto possa gerar uma crise diplomática com a China que a partir disso pode acabar impondo sanções aos produtos brasileiros.
Eduardo Bolsonaro ataca partido comunista
Após as acusações infundadas do filho de Bolsonaro sobre a China, a embaixada chinesa em Brasília subiu o tom ao rebater a postagem de Eduardo e voltou a ameaçar o Brasil com consequências negativas vindas por parte do Governo de Pequim. Na ocasião, Eduardo postou um comentário no Twitter citando que o Brasil pode aderir a uma aliança administrada pelos Estados Unidos contrária ao uso do 5G da Huawei.
Em seu tuíte, Eduardo destacou ainda que o governo brasileiro dará apoio à aliança Clean Network, que foi lançada durante o governo do presidente Donald Trump e tem como objetivo desenvolver um sistema 5G seguro sem sofrer espionagem do governo chinês.
Por meio de uma nota lançada na terça-feira (24), a embaixada da China classificou as declarações do filho de Bolsonaro como inaceitáveis, A nota cita ainda que o Brasil poderá sofrer retaliações comerciais, caso Eduardo Bolsonaro, entre outros representantes do governo brasileiro não abandonarem tais declarações infames que desrespeitam a soberania da China.
Abdenur avalia como hipócrita a versão de Eduardo Bolsonaro
Segundo a avaliação de Abdenur, o mesmo considera como hipocrisia a versão apresentada pelo governo dos Estados Unidos apoiada por Eduardo Bolsonaro, ao citarem que a China estaria usando a tecnologia 5G para espionar outras nações. Vale ressaltar que os EUA são especialistas no assunto.
Em 2015, após a revelação de documentos confidenciais do governo norte-americano, que foram vazados para o site WikiLeaks, ficou comprovado que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) realizou espionagem em vários países inclusive o Brasil. Na época, foram espionados a presidente Dilma Rousseff e mais de 20 telefones de pessoas ligadas ao governo do PT.
Abdenur também ressalta que nos últimos anos, o país que mais fez espionagens foi os EUA e acredita que ninguém deveria aderir às pressões dos norte americanos sobre o uso do 5G.
Governo Bolsonaro pode levar o Brasil a pária internacional
Segundo a avaliação de Roberto Abdenur, o ex-embaixador classifica que no momento o governo brasileiro caminha para um futuro incerto se cortar as relações com os chineses.
Vale ressaltar que a partir de 2021, o Brasil também não terá mais apoio do governo de Donald Trump, que foi derrotado nas eleições presidenciais dos EUA, por conta disso espera-se que a relação do governo brasileiro com o democrata Joe Biden seja bastante conturbada.
Para Abdenur, no próximo ano o governo Bolsonaro precisará lidar com uma série de discordância em relação ao governo de Biden, que envolvem o combate às mudanças climáticas, racismos e o combate ao novo coronavírus. E caso o governo brasileiro não mudar a atual política externa completamente desvairada, descontrolada pode sofrer enormes prejuízos nos próximos anos.
Abdenur também vê o risco de que nos próximos anos, o Brasil possa ser excluído da política internacional, ao invés de ser incluído em alguma parceria.
Para ele, o governo Bolsonaro pode colocar o Brasil ao lado da Coreia do Norte, como os dois únicos países do mundo a serem pareados pelo resto do mundo e que no momento não consegue ver outras nações com o mesmo problema. Diferente de Coreia e Brasil, está a Venezuela, mas esta ainda conta com o apoio de China e Rússia.