"Na pandemia, Exército volta a matar brasileiros". Esse foi o título do artigo publicado no último domingo (17) pela revista Época e assinado pelo jornalista Luiz Fernando Vianna. O artigo, como o título sugere, traz duras críticas à atuação dos militares no dia a dia da política brasileira, em especial na atuação de integrantes da ativa e da reserva das Forças Armadas em setores do governo Jair Bolsonaro.

O texto relembra passagens marcantes da história brasileira que envolveram episódios de violência do Exército contra a população do país, como na Revolta de Canudos e, claro, na ditadura militar iniciada em 1964 e terminada em 1985.

Os dois acontecimentos, somados, resultaram na morte de pouco mais de 20 mil pessoas em ações que tinham o Exército como protagonista.

Militares no governo

O foco do artigo, no entanto, é na participação de militares em quadros do governo Bolsonaro. Diferentemente de outros governos eleitos após a abertura política, em 1985, o governo Jair Bolsonaro é composto por milhares de militares da ativa e da reserva. Um levantamento do Tribunal de Contas da União feito em julho de 2020 apontou 6.157 militares como nomeados em cargos do governo, desses, segundo o Ministério da Defesa, 3.029 são da ativa.

A presença de militares é alvo de críticas também no combate à pandemia do novo coronavírus no Brasil.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por exemplo, é general da ativa do Exército brasileiro e responsável direto pela falha na importação das doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca/Oxford e fabricadas na Índia.

Apoiadores e críticos do Exército reagem

A publicação rendeu fortes críticas de apoiadores das Forças Armadas na internet.

No Twitter, por exemplo, usuários classificaram o artigo como desrespeitoso e pediram uma reação forte dos militares.

As críticas também carregavam histórias de assassinatos de militares, como o caso da sargento do Exército morta na frente dos sobrinhos.

No entanto, críticos do Exército também se manifestaram nas redes endossando o conteúdo do artigo e relembrando outros casos envolvendo as Forças Armadas, como quando militares do Exército foram condenados por desvio de alimentos, em julho do ano passado.

Exército reagiu

O pedido dos apoiadores das Forças Armadas foi atendido. Nesta segunda (18), por ordem do Comandante do Exército Brasileiro, Edson Pujol, o centro de Comunicação Social do Exército enviou à editora-chefe da revista Época, Ana Clara Costa, uma carta aberta assinada pelo general Richard Fernandes Nunes em que rebate as acusações feitas pelo jornal e exige retratação.

Na carta, Nunes afirma que a argumentação do jornalista é irresponsável e revela ignorância, chamando as acusações de levianas e que a atribuir ao Exército as mortes do novo coronavírus é comportamento "possivelmente criminoso".

Por fim, ao final da carta, Nunes exige que a revista época faça uma "imediata e explícita retratação" do artigo mencionado, que o Exército classifica como "mero panfleto tendencioso e inconsequente".

Até o fechamento desse artigo a revista não se pronunciou sobre a carta.